terça-feira, agosto 31, 2004

Maquinário na Muda

Agora o Maquinário está fazendo uma participação no programa "Válvula", da rádio Muda.

Só para explicar, a rádio Muda é uma rádio livre que funciona na Unicamp há mais de treze anos, e ontem estreiou o programa "Vávula", idealizado pelo André Dal'Bó. Caso você queira ouvir a Muda é só sintonizar 103,7FM (em Campinas) ou pelo site. O "Válvula" vai ao ar todas as segundas por volta da meia noite.

É assim, agora o Maquinário ataca pelas ondas do rádio também!

domingo, agosto 29, 2004

Antes de mais nada...

Antes de voltar com o Maquinário, gostaria de dizer algumas coisas. São poucas, por isso, aí vai:

O Maquinário não gosta de movimentos, tribos, ondas e afins. Ele existe apenas para mostrar aos poucos que aqui visitam os discos que gosto. Por isso, longe de mim querer levantar bandeiras.

Além disso, não tenho a pretensão de escrever resenhas dignas de coisa alguma. Com certeza existem milhões, bilhões de pessoas por aí que escrevem melhor do que eu, mais do que eu, e que manjam muito mais do que eu. Então, o que é aqui escrito são apenas minhas idéias acerca dos sons que me marcaram ou que julgo legal. E só para deixar claro desde já: não quero ser o Lúcio Ribeiro. Acho o cara legal, sempre quando tenho a oportunidade leio sua coluna e só.

Ok, já tá ficando longo demais. Só para terminar, não sei quando serão feitas as mudanças por aqui. Acho que logo, já que não serão grandes mudanças. Então, com ou sem mudanças, essa semana tem resenha nova.

Agora, pára de ler isso aqui e vai ouvir um disco do Clash. Volta depois, ok?

segunda-feira, agosto 16, 2004

Esta semana:

Esta semana não vai ter resenha. Mas posso me explicar. O Maquinário vai passar por reformulações. E vai ficar mais legal, pode apostar.

Nova cara, novas resenhas, etc. Muitas coisas novas estão por vir.

Então, esperem que até o fim dessa semana vai estar tudo em ordem, ok?

segunda-feira, agosto 09, 2004

Esta semana:

Bruce Springsteen - Nebraska (1982)



É difícil falar sobre artistas considerados grandes. E há uma lista enorme deles. Mas é inegável que eles são os pilares para tudo o que vemos/ouvimos hoje, seja bom ou ruim. São repetidas vezes que vemos alguns pensarem que esse tipo de sons ou pessoas são velhas demais para o mundo de alta velocidade em que vivemos. Além disso, muitos outros caem no engano de achar que é bom só porque é velho - e quem está achando essa frase absurda, é só olhar a sua volta: normalmente, pessoas que gostam de música, mas não tem interesse ao que aconteceu antes, tem esse tipo de pensamento(!). A verdade é que nomes como Bob Dylan, David Bowie, Rolling Stones, Bruce Springsteen, etc, tem seu nome certo na lista daqueles que marcaram e fizeram (fazem) a história da música pop ocidental.

Mas apesar das inúmeras possibilidades, vamos falar apenas de um deles, o último citado acima. Bruce Springsteen. The Boss.

Não são muitas as pessoas que conhecem Bruce Springsteen além do "Born in the U.S.A". O que é uma pena, diga-se de passagem. E é exatamente por esse motivo que o disco sobre o qual falaremos aqui é um dos mais obscuros e incompreendidos de sua carreira: "Nebraska".

"Nebraska" foi concebido após o único disco duplo da carreira do músico, "The River". Este é um dos álbuns mais intensos, e apesar de ser duplo, os sentimentos lá expostos se mantem como são, não se dissipando por entre as faixas. Em "The River" encontramos declarações e observações de sentimentos como dificuldades no relacionamento com seu pai, ou relacionamentos amorosos feitos pelo cantor e compositor. Após a turnê desse disco, Springsteen chamou um dos técnicos de sua equipe e perguntou a ele se era possível conseguir alguma coisa para que ele gravasse as novas canções em casa antes que pudesse as levar ao estúdio. O tal técnico conseguiu uma mesa de quatro canais com um gravador, e no quarto da casa do próprio Springsteen, em Nova Jersey, "Nebraska" foi concebido.

As possibilidades de gravação não eram muitas. Eram gravadas a voz e o violão de uma só vez, com dois microfones captando o que era tocado. Após isso, era gravado - em alguns casos - mais algumas guitarras ou instrumentos de percussão. E pronto. Dessa maneira foi feito "Nebraska". Assim que concluiu as canções, Bruce as levou para um estúdio, chamou a banda e buscou todos os caminhos que as músicas ofereciam. Segundo ele mesmo, "finally satisfied that I'd explored all the music's possibilities, I pulled the original home-recorded cassette out of my jeans pocket where I'd been carrying it and said, 'This is it'."

Lançado em Setembro de 1982, "Nebraska" confundiu os fãs e a crítica. Acompanhando a cronologia da carreira do músico, "The River" era um disco de rock, já "Nebraska" propunha uma nova dinâmica nas músicas de Springsteen. As canções que compõe o disco seguem uma linha mais blues, mais introspectiva - voz e violão - do que visto anteriormente. Além disso, muito embora as letras mantenham seu aspecto intenso no que diz respeito a sentimentos, ou mesmo o retorno a tempos remotos da infância e juventude do cantor, elas são feitas numa linha diferente de composição: as canções de "Nebraska" são mais lineares, poucas tem refrões e normalmente contam alguma história, verdadeiras ou ficcionais.

Bruce Springsteen é um artista que se renova. Ele existe como nós o conhecemos, mas durante toda a sua carreira somos surpreendidos com discos diferentes daquilo que ele está acostumado a fazer. Além de "Nebraska", há, por exemplo, "Tunnel of Love" de 1987, ou "The ghost of Tom Joad" de 1995 - com uma levada completamente folk - que sempre mostram uma faceta até então desconhecida do cantor.

Para quem está disposto a encarar um Bruce Springsteen acompanhado apenas de seu violão encontrará canções como "Johnny 99" - história de um sujeito que após perder o emprego, seqüestra e mata o gerente de uma loja de conveniência -, "Atlantic City" - voz, violão e uma gaita -, "Fathers House" - fala sobre um sonho, "Reason to Believe" - canção que cita diversas situações onde os personagens, por piores que sejam as condições em que se encontram, sempre acham uma razão para continuar acreditando. De uma maneira geral, não há como dizer quais são as melhores canções do álbum, pois o interessante é realmente o desenrolar do disco como um todo; citei algumas canções apenas para ilustrar o que venho dizendo.

"Nebraska" é um disco de quem tem coragem para quem tem coragem. Primeiro, Bruce Springsteen, de certa maneira, desafiou o mercado fonográfico, e pôs em jogo sua carreira, lançando um disco completamente diferente do que vinha fazendo até então. E por isso é um disco que quem tem coragem. Segundo: ouvi-lo é um ato de quem está disposto a aceitar o novo, o diferente, encontrar uma novidade naquilo que está habituado a conhecer. E como todos sabem, é preciso coragem para fazer tal coisa.

E só para localizar aqueles fãs mais desavisados, o disco seguinte, lançado em 1984, foi o famoso "Born in the U.S.A". Mas essa já é outra conversa.

segunda-feira, agosto 02, 2004

Esta semana:

Monalisa Overdrive - Canções Estranhas para Pessoas que Respiram (2004)



Falar sobre musica alternativa hoje já virou clichê. Mas, modismos à parte, vemos boas coisas acontecendo nesse "lado b" da indústria fonográfica. Longe das grandes coorporações, livre de produtores e com total controle sobre seu trabalho, os músicos e bandas que optam por esse caminho não encontram apenas flores por onde passam. Há também espinhos.

Pouca divulgação, logo, poucos shows e consequente pouca exposição ao público: o jeito é fazer tudo isso a maneira antiga: no boca-a-boca. Sim, hoje existe a internet, mas ainda assim as coisas não são fáceis para quem quer trilhar os caminhos do mundo alternativo. E acredito que exatamente por isso as bandas têm se esforçado para apresentarem trabalhos mais criativos e elaborados do que podemos esperar.

Seguindo essa idéia, temos a banda campiniera Monalisa Overdrive. Formada em 2003, com Rudi no vocal, guitarra e viola caipira, Gustavo no baixo, Fred na guitarra e na viola de orquestra e André na bateria, o Monalisa Overdrive chega até nós com seu debut, o cd entitulado "Canções estranhas para pessoas que respiram".

A banda faz uma fusão entre o pop e a música caipira que é, no mínimo, estranha. E que desperta a curiosidade dos que não conseguem imaginar como se dá tal fusão. Como são poucos os que conseguem tal façanha, vamos ao disco.

Logo de primeira percebemos o trabalho gráfico do encarte. Veja bem, só porque se é independente não significa que o trabalho deva ser mal feito. O encarte desse cd é algo a se destacar nesse sentido. Simples, mas de muito bom gosto, já na capa encontramos uma caricatura da Monalisa. Dentro, temos as letras de todas as músicas e fotos da banda, num trabalho gráfico muito bem estruturado pelo André, o próprio baterista da banda.

A faixa que abre o disco é "Prisioneiro". Num clima meio pesado e por entre rangidos de celas, a banda começa "Andando contra o vento/De peito fechado e sempre atendo". E dessa maneira eles percorrem os mais de quarenta e cinco minutos que do disco. No mesmo clima da primeira faixa, "Não vou voltar" e "Amanheceu", sendo que essa última é iniciada por uma viola caipira que pouco depois se vê acompanhada por um baixo pesado e uma bateria numa pegada bem marcada.

Daqui para frente, merecem destaque as faixas: "Por algo mais", uma balada muito bem feita, com um refrão marcante; "Estamos Loucos" foi a primeira música do disco a ganhar um videoclip (que por sinal está disponível para download no site da banda), e não foi à toa: talvez essa seja a melhor composição da banda até então; "Alucinações" tem a levada rock n' roll, flertando com o blues; e "Coisas imperfeitas" uma vinheta que fecha o disco mostrando alguns erros de gravação, mas que quando corrigidos ouve-se a seguinte letra: "É claro que as coisas não são perfeitas/E é normal que você se perca/No deserto do desejo".

A banda, com esse primeiro trabalho, lançou-se no caminho que é seguindo por muitas outras bandas no underground brasileiro. E esse caminho é longo, por isso é bom que o Monalisa continue com o mesmo "peito fechado e sempre atento" com que inciou essa caminhada. E que mantenha a qualidade vista nesse primeiro trabalho.