quarta-feira, maio 04, 2005

Extra:

Esta semana saiu no Poppy Corn uma crônica que escrevi sobre o show do Placebo em Campinas. Para ler, clique aqui.

domingo, maio 01, 2005

Esta semana:

Cérebro Eletrônico - Onda Híbrida Ressonante (2004) *



Há quase oito décadas Oswald de Andrade e Társila do Amaral trouxeram ao mundo o Manisfesto Antropófago. Ampliando os horizontes propostos pelo Manisfesto da Poesia Pau-Brasil, Oswald e Tarsila sugerem a digestão do que é influência exterior para criação de uma arte nacional. Isto ocorreu como eco da Semana de Arte Moderna de 1922, mas ainda hoje encontramos seguidores destes ideais. Como pregava o manifesto, "Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente". A banda paulista Cérebro Eletrônico, com certeza, adicionaria "musicalmente" ao manifesto.

Esta idéia da banda fica clara logo nos primeiros segundos de "Onda Híbrida Ressonate", primeiro trabalho da dupla Tatá Aeroplano e Fernando Maranho: o berimbau dá lugar à batida eletrônica que será, então, a coluna vertebral do disco. Assim como queria Oswald, em "Menina em Transe" - primeira faixa do disco -, os elementos externos - novos, neste caso - são digeridos, e ao final da música o berimbau retorna para dividir o espaço com a eletrônica. Depois de dado o recado, nos quase cinqüenta minutos que se seguem, encontramos uma mistura de MPB e eletrônica - que, embora pouco original, é bem feita -, além de uma retomada do tropicalismo - daí o nome da banda - mas que busca caminhos alternativos aos trilhados pelo movimento da década de 60.

É quase impossível evitar a comparação com o Mombojó, mas ao término de "Onda Híbrida Ressonate" percebe-se que - além de paulistas - a experimentação empreendida pelo Cérebro Eletrônico segue caminhos mais extremos: foram utilizados na gravação brinquedos, latas de filmes, sons de animais domésticos, pregos, liquidificadores, percussão corporal e pano de chão. E o resultado deste caos em potencial é ótimo, pois são estes sons que, além de rechear o álbum, dão características ao som do grupo. "Ar Condicionado", "Dê" - que podem ser vistas como poemas concretos musicados - e "Fibroplastia Reticular" são bons exemplos de como as canções se constroem.

Há alguns tropeços, pois nem sempre experimentações dão bons resultados. É claro, nada que estrague o trabalho. Por exemplo, as guitarras e violões de "O Dragão na Minha Garagem" deixam a música perdida em meio a atmosfera eletrônica construída até então; "Fantastic" - última faixa - não amarra o disco, e se parece apenas uma experimentação sem muito sentido. Em contraposição, os pontos altos são facilmente encontrados na citada "Fibroplastia Reticular", "Serge Gainsbourg x Coffin Joe" - a estranha mistura entre França (Serge Gainsbourg), Brasil (Coffin Joe = Zé do Caixão) e até EUA, pois parte da letra é em inglês - e "Primeira Pedra" - uma das melhores do álbum. É, então, um disco equilibrado, no qual pequenos deslizes não influenciam a audição.

Além da dupla Tatá Aeroplano (vocal e brinquedos) e Fernando Maranho (guitarra, programações e vocal), a banda conta com Dudu Tsuda (teclado e sintetizador), Gustavo Souza (bateria e percussão), Helena Resenthal (violão e backing vocal) e Izidoro Cobra (baixo e backing vocal). Entretanto, para a gravação de "Onda Híbrida Ressonante", a banda contou com as ótimas participações de Flávio Pluto (sax em "Jazza Muderno"), Gui Calzavara (trompetes em "Antropofagia" e "Dê") e Marcelo Monteiro Kim (flauta transversal em "Fibroplasia Reticular"). Isto sem contar mais outros oito músicos convidados que se espalham ao longo do disco, e fizeram, junto aos demais, com que Oswald respirasse aliviado.

* Resenha publicada no site Poppy Corn. Entre lá e leia também a entrevista com a banda.