sábado, junho 25, 2005

O Retorno

Depois de um longo e merecido recesso, o Maquinário está de volta. A banda do retorno é o "Retroverso", quarteto de Piracicaba que mistura o velho e o novo rock n' roll. Aproveite. Está logo abaixo.

É impressão minha ou vocês estão diferentes? Acho que foi o tal recesso...

Esta semana:

Retroverso - "O Quanto eu Posso Ser..." (2005)



É reincidente na música a recuperação de estilos anteriores. Prova disso é a safra de bandas do chamado "novo rock". Para quem não se lembra, essa história começou com os (sumidos) "Strokes", e hoje conta com os "experientes" "White Stripes" e os novatos "The Killers", "Libertines" e outras tantas, que trazem no som algo dos anos 60, 70 ou 80, devidamente remodelado. Não se pode negar, entretanto, que esse movimento pode supervalorizar a recuperação em detrimento a criação, gerando uma confusão conceitual e temporal nas bandas influenciadas pelos nomes acima citados. Fique claro que 'confusão' não é sinônimo de 'ruim', pois cabe a cada banda trabalhar a miscelânea musical disponível mundo afora.

A idéia tende a ficção científica. Como seria a mistura do rock n' roll setentista de, digamos, "Steppnwolf", com a releitura do mesmo setentismo feita pelos "Strokes"? Uma possível resposta é encontrada logo na abertura de "O Quanto eu Posso Ser", primeiro disco da banda piracicabana "Retroverso". Formado em 2004 por Marcelo Kamachi (Guitarra, Voz), Matheus Dante (Baixo), Rodolfo Perez (Baterista) e Cassiano Viana (Guitarra), o quarteto procura misturar estilos e suas releituras, sempre voltada ao rock. "A palavra Retroverso tem a intenção de passar a idéia de contraste de som antigo com novo e vice-verso", explica Marcelo Kamachi em entrevista ao Maquinário.

Gravado entre dezembro de 2004 e abril de 2005, "O Quanto eu Posso Ser" é um disco conciso. As guitarras distorcidas são a linha sobre a qual se desenvolve temas usuais como amor ou a cultural de massa. "Meu processo de composição é meio turbulento e lento", brinca Marcelo, e completa: "na realidade esse disco tem várias fases, que mostram essa mudança tanto em influências como nas coisas que fazemos e pensamos em vários momentos da vida". De maneira geral, é um disco quase confessional, alternando momentos de alegria e melancolia, leves e pesados.

A idéia de contrastar o novo e o velho permeia todas as composições, e fica óbvia nas faixas "A Mesma Canção" ou "Nos Olhos de Alguém". Entretanto, o rock n' roll clássico, baseado em riffs e guitarras pesadas é a tônica do trabalho. Bons exemplos são "A volta de um estranho", "Sem sermos nós mesmos" e "Perversão" - sendo visível nesta a influência o Black Sabbath da época de "Paranoid". As baladas são eficazes, e "Ao dia de ontem" ou "Vamos embora" são provas fáceis disso. As influências são claras, e seguindo a lógica de misturar originais e releituras, encontramos os Beatles em "Ando me esquecendo" e Oasis em "Pra me deixar levar" - uma das melhores do disco.

O "Retroverso" é uma boa surpresa de uma região onde o incentivo ao rock é praticamente escasso. "Há poucos lugares que uma banda cover possa tocar e para bandas que fazem som próprio simplesmente não existe", desabafa o vocalista. O bom acabamento - tanto visual quanto musical - de "O que eu posso ser", somado a interessante proposta da banda resulta não apenas num importante primeiro passo, mas numa ótima estréia. É o bom e velho/novo rock n' roll. E alguns ainda acreditam que ele precisa de salvação.