quarta-feira, setembro 29, 2004

Maquinário no Correio Popular

O Maquinário saiu no jornal Correio Popular, de Campinas. Sérgio Carvalho, autor da nota, escreveu o seguinte na coluna "No Tom" de 28/09/04:



domingo, setembro 26, 2004

Esta semana:

Del-O-Max - Del-O-Max (2002)



Acredito que de alguma forma vocês já ouviram falar dessa banda. Seja pelo número de shows em São Paulo ou em Campinas - cidade de origem da banda -, ou por um dos shows mais importantes que a banda fez em 2004, abrindo para a banda escocesa Teenage Fanclub. Fato é, se ainda assim vocês não fazem a menor idéia de quem seja o Del-O-Max, logo logo vão saber.

E um primeiro passo para isso é ouvir esse CD-demo lançado em 2002. "Del-O-Max" é um CD cru, deixando claro que uma das características mais marcantes da banda é o Lo-Fi. É claro, a produção independente - o disco foi gravado ao vivo num estúdio - ajuda muito nisso, fazendo com que o CD nos deixe ver só um pouco da potência da banda. Ao vivo, bom, ao vivo a história é completamente diferente. Mas por enquanto vamos nos ater ao CD.

Com oito faixas, a primeira coisa que nos chama a atenção é a formação da banda: são dois baixistas, um guitarrista e um baterista. Se desprendendo do usual, talvez essa característica peculiar da banda faça mais diferença na parte visual e conceitual (fugindo do esquema duas guitarras, baixo e bateria) do que na sonora. Independente disso, "Del-O-Max" é um apanhado de toda produção índie dos últimos anos, e, como afirma a própria banda, discretamente tem algo da linguagem jazzística.

"Rock as I am" deixa claro uma característica que será parte de todo restante do CD: as guitarras seguem uma linha mais melódica, indo contra o peso do baixo. Só para ter como base, lembra um pouco Sonic Youth. A segunda faixa, "Hot for You" tem uma linha de baixo ("lead-bass") que dita o andamento da música, enquanto essa varia entre momento de peso e momentos de guitarras quase dedilhadas. "Dear Lou" cria todo um clima melancólico com guitarras e baixos distorcidos, microfonias, etc, enquanto "Rechargeale" mostra um lado quase surf-music da banda pelos vocais e, mais uma vez, a linha de baixo - só que agora o "rithim-bass".

"Drugstore pubs selling cars", a faixa cinco ressalta a levada pop da guitarras; "Single bed", talvez a mais pop do CD, mistura os vocais e guitarras melódicas com baixo distorcido, resultando numa das melhores músicas do disco; "Aspirins" começa com uma pegada rápida e vai assim até o fim, com apenas algumas brecadas durante a música, chegando quase a lembrar algumas bandas clássicas de rock'n'roll como Steppwolf ou Doors; fechando o disco "Black dog (drinking beer)", quase bossa-nova onde talvez a linguagem jazzística mais apareça durante todo o disco.

Del-O-Max é formado por Ryozo (bateria), Henrique (baixo), Campos (baixo e voz) e Strukel (guitarras). Além de "Del-O-Max", lançado em 2002, já está circulando "Jail-O-Time", single da banda com três faixas. Para ter acesso aos discos, agenda e outras informações da banda, é só entrar no site deles.

domingo, setembro 19, 2004

Esta semana:

Deep Blue Something - Home (1995)



O Deep Blue Something é conhecido como a banda de uma única música de sucesso (One-hit wonder). Isso para quem os conhece, diga-se de passagem. Formada em 1993, na cidade de Denton, texas, por Todd Pipes (voz e baixo), seu irmão Toby Pipes (guitarra e voz), Kirk Tatom (guitarra) e John Kirtland (bateria), a banda tem apenas quatro discos gravados: 11th song (1993), Home (1995), Byzantium (1998 - lançado apenas no Reino Unido e Japão) e Deep Blue Something (2001).

"Home" foi o disco que projetou a banda para um público maior, graças a famosa "Breakfast at Tiffany's". Só para esclarecer, "Breakfast at Tiffany's" é o título de um livro escrito por Truman Capote em 1958, que em 1961 virou filme com a atriz Audrey Hepburn e recebeu o título em português de "Bonequinha de luxo", isso, é claro, além de ser o título da música mais conhecida da banda em questão.

Acontece que "Home" vai muito além de "Breakfast at Tiffany's". Logo de cara encontramos "Gammer Gerten's Needle", faixa instrumental onde o timbre das guitarras é o destaque. Logo depois vem "Breakfast at Tiffany's", balada acústica que não à toa foi o hit-single da banda: a melodia gruda como chiclete e é difícil, difícil mesmo de esquecer. Na sequência, "Halo", que também abre mão de violões, mas numa menor escala do que "Breakfast", muito embora seu refrão seja tão grudento como o de sua antecessora; "Josey" é uma balada sem muitos mistérios; "A water prayer" chama a atenção graças a sua introdução, um tanto quanto pesada para os padrões do disco, e pelo backing-vocals que nos remetem às bandas dos anos oitenta, inevitavelmente; "Done" é a prova de que o disco vai muito além de "Breakfast at Tiffany's"; "Song to make love to" é outra música que nos leva de volta aos anos oitenta, ora pelos "Delays" da guitarra, ora pela melodia da voz.

Seguindo com o disco temos "The Kandinsky Prince", a menor música do disco, e a com mais pegada também; "Home" é a melhor faixa: uma balada com um potencial enorme de emocionar qualquer um, seja pelo arranjo ou pela letra, uma das mais inspiradas até aqui; "Red light" é como uma irmã de "The Kandinsky Prince", só que um pouco mais elaborada; "I can't wait" e "Wouldn't change a thing" são encarregadas pelo fim do disco, entretanto não o fazem com chave de ouro. Na verdade, seguem o ritmo mediano pelo qual o disco vem caminhando.

Uma curiosidade sobre "Home" é que o disco foi feito de maneira independente e lançado pela RainMaker. Posteriormente, a banda foi contratada pela Interscope Records, que fez algumas alterações no álbum e o lançou com o single "Breakfast at Tiffany's" em Junho de 1995, fazendo com que o single estivesse entre os mais tocados no ano de seu lançamento. Outra curiosidade é que o primeiro nome da banda foi "Leper Messiah", nome tirado da letra de "Ziggy Stardust", de David Bowie, e trocado pelo título da faixa instrumental que abre o disco "home", logo após que esta foi composta.

A banda está em algum lugar por entre os anos noventa, marcados basicamente pelo movimento grunge de Seattle. E exatamente por isso ela passa quase que imperceptível por nós: o som do Deep Blue Something está longe do de Kurt e cia. Entretanto, é um bom exemplo do que vinha acontecendo além do que estamos acostumados a saber. Após "Home" a banda lançou "Byzantium" em 1998 e "Deep Blue Something" em 2001, mas sem o mesmo efeito de seu segundo álbum.

domingo, setembro 12, 2004

Esta semana:

Sepultura - Chaos A.D. (1993)



De todos os discos que eu poderia colocar aqui, nenhum deles soaria tão estranho ao Maquinário quanto esse. Ou melhor, soaria violento, pesado, etc. Guitarras altamente distorcidas, baterias ensandecidas por pedais duplos. São eles - num disco velho, mas ainda eles -, o Sepultura.

Chaos A.D. nos remete aos idos anos de 1993. Há mais de dez anos atrás chegava até nós um dos discos mais importantes da carreira da banda e do metal de uma maneira geral. o Sepultura já era uma das grandes bandas do metal mundial, principalmente depois do destruidor "Arise", lançado em 1991, mesmo ano em que a banda era uma das atrações principais do Rock in Rio II e que, lamentavelmente, aconteceu o fatídico show deles em São Paulo, na praça Charles Müller, onde um fã foi assassinado. Ainda na turnê de "Arise", o Sepultura era capaz de atrair legiões de fãs aos seus shows: aquele mesmo de São Paulo teve um público de quarenta mil pessoas, enquanto na Indonésia cem mil pessoas compareceram aos dois shows feitos num estádio.

Ou seja, o Sepultura já era uma grande banda, reconhecida aqui e no exterior. E, confirmando isso, em 1993, sob a produção de Andy Wallace (Nirvana, Smashing Pumpkins), foi lançado Chaos A.D., um dos discos que merece mais destaque na história da banda. Muito além do fato de ter vendido 300 mil cópias no Brasil - não se esqueça que essa é uma banda de Metal -, ou de ter aberto a porta para o grupo se apresentar no "Mosters of Rock" e ser a primeira banda latina a tocar nesse festival, Chaos A.D. é um puta disco por si só.

Acompanhando o desenvolvimento do Sepultura através de seus discos, notamos em Chaos A.D. linhas de baterias muito mais elaboradas, não deixando o peso de lado. As guitarras também parecem mais entrosadas, além de valorizar o contraste entre guitarras base e guitarras solo, o que dá um efeito final invejável a qualquer banda de metal até então. Mas além da parte técnica da coisa, a banda inova a fórmula até certo ponto viciada do Metal: indo na contra-mão de bandas como Metallica e Slayer, o Sepultura introduz ritmos afro-brasileiros em suas músicas, valorizando a harmonia e deixando para trás a paranóia de fazer 752121212258 notas por segundo.

Nas letras, a banda também deixa um pouco de lado a temática Thash/Metal/Doom/etc e passa as explorar temas políticos. Só para citar, a música "Manifest" é sobre o massacre ocorrido em 1992 no presídio Carandirú, em São Paulo, onde 111 de detentos foram mortos; "Kaiowas", faixa instrumental dos disco, é sobre o suicídio em massa dos índios da tribo Kaiowá para protestar contra o governo; e mesmo "Polícia", música cover dos Titãs.

Fato é, Chaos A.D. foi o disco que confirmou a posição do Sepultura no Metal mundial. Exemplo para alguns, orgulho para nós, o Sepultura está aí para isso: para mostrar que não só no metal, mas na música de uma maneira geral, não há barreiras. Desconsiderando o mercado fonográfico, os preconceitos de alguns, etc, etc...

domingo, setembro 05, 2004

Esta semana:

Fluid - Songs from my apartament (2003)



Mais um lá de baixo. Uma coisa é fato: muito embora o mercado alternativo tem caído nessa de somos-alternativos-e-isso-é-o-que-importa, há coisas legais saindo de lá de baixo, do underground. Pode parecer pretensão minha, mas acho que todo esse negócio de indie, alternativo, etc deve ser repensado um pouco. O propósito desse tipo de coisa é trazer à tona coisas novas, boas, interessantes, etc. Acontece que, de uns tempos para cá, o underground tem feito coisas para o próprio underground, e deixando claro que quanto mais embaixo estiver, melhor.

Ainda bem que não somos todos iguais. Alguns estão nessa onda, enquanto outros procuram caminhos alternativos ao alternativo. Um exemplo disso é o Fluid, banda formada em 2002 em Campinas. Ok, vão me dizer que cantar em inglês já é um bom exemplo para provar que eles estão querendo permanecer lá embaixo. É aí que está a chave da questão: Eles cantam em inglês pois procuram o mercado externo. E não só a demo "Songs from my apartament" prova isso, mas também outras quatro canções que fazem parte da coletânea "Tape Record Bliss Aquamarine" que circula pela Inglaterra e do recente contrato fechado como uma produtora de Nova Iorque.

Mas vamos às músicas. A demo "Songs from my apartament", como o próprio nome diz, foi gravada no apartamento de Pelle, guitarrista e vocalista da banda. Recursos limitados, é verdade, mas resultado impressionante: mais de dez músicas com influências claras de Radiohead, Nirvana, Stone Roses e por aí vai (dessas mais de dez, apenas sete estão em "Songs from my apartament"). Misturas de alta qualidade, se bem feitas, dão ótimos frutos, o que pode ser comprovado, por exemplo, em "Mama Hates", vocais nirvanísticos e arranjos oitentistas. Além dessa faixa, outras como "Relieved", "Sex is Blind" e "You're sweet" também variam entre guitarras distorcidas e limpas, refrões marcantes e letras bem montadas.

A balada "My Mistake" tem a base em violões, apoiada por uma guitarra cheia de "delay", o que dá o clima anos iotenta da música. Uma melodia suave - de certa maneira, entende-se "suave" como "melancólico" também - e "My mistake", quase no fim, dá uma reviravolta incrível, retornando ao peso de "Mama Hates", primeira faixa do CD. Pronto, fim da demo. Maquinário teve acesso a outras canções como "Stay", "if you have something to say to me" e "under my skin", e pode afirmar que "Songs from my apartament" é um CD peso, mas sem deixar de lado a melodia, principalmente nos arranjos vocais.

O Fluid é formado por Pelle (guitarra e vocal), Du (bateria), Dinho (baixo) e Juninho (guitarra). Vale lembrar que essa formação é recente, sendo que da original só restaram Pelle e Du. Entretanto, shows já estão agendados. Isso sem falar da novo EP "Mama Hates", composta por seis músicas, que está em fase de pré-lançamento. Se quiser saber mais sobre a banda, ouvir algumas músicas, etc, é só entrar no site da banda.

quarta-feira, setembro 01, 2004

Esta semana:

Los Hermanos - Ventura (2003)



Vou assumir o risco de falar de uma das bandas mais legais e originais do rock nacional. Começaram com um disco daqueles que as pessoas que curtem o som da banda hoje passaram longe; porém, após tomar o controle de sua própria carreira, os ventos começaram a mudar de direção. Ir de "Anna Júlia" até "Samba a dois", passando por "Sentimental", não é apenas uma evolução, mais uma revolução. E quem acompanha a história dos Los Hermanos entende muito bem o que estou dizendo.

A verdade é que ninguém sabe de onde apareceu a tal da Anna Júlia. De repente era só ligar o rádio - AM ou FM - em qualquer estação, e lá estava ela, aquela que não queria mais o amor do pobre cantor. Furor total, Los Hermanos era a banda mais amada de dez entre dez garotinhas de quinze anos. Muito embora o disco de estréia da banda ("Los Hermanos" - 1999) tivesse algumas boas músicas, era só Anna Júlia para baixo e para cima. E, acreditem, esse é um dos piores infernos que um banda pode viver.

Sabendo disso, a banda carioca resolveu se trancafiar num sítio (Sítio Remanso), em Petrópolis no Rio de Janeiro, e começar a rascunhar o tão aguardado segundo disco. Mudanças aconteceram: saiu Patrick, baixista da banda, o grupo se uniu mais e poucos meses depois "Bloco do eu sozinho" (2002) estava nas prateleiras das lojas. Decepções para as pessoas que esperavam encontrar uma "Anna Julia II" ou qualquer outro nome de garota, tão má quanto a primeira; porém orgasmos para os críticos e apreciadores de plantão. "Bloco do eu sozinho" se consagrou como um dos álbuns mais criativos dos últimos tempos do rock nacional, muito embora sua execução nas rádios tenha sido um fracasso se comparado ao álbum anterior.

Passados quatro anos de "Los Hermanos", em 2003 chegou a nós o disco "Ventura", o terceiro da carreia da banda. Concebido e gravado da mesma maneira que "Bloco...", "Ventura" foi a consagração definitiva dos Hermanos como uma das melhores bandas do rock brasileiro. Criativos, cativantes, inteligentes: não foram poucos os adjetivos que receberam de críticos, fãs, etc. E não é para menos. "Ventura" é um disco singular. Ao ser ouvido, ele cria um atmosfera toda particular, onde sentimentos variados são apresentados e esmiuçados aos ouvintes. Metafísico demais? Se não acredita, faça o teste. Pequenas pérolas surgirão a cada faixa.

Logo na primeira faixa ouvimos um samba. A faixa "Samba a dois" começa com a frase "Quem se atreve a me dizer do que é feito o samba", exatamente por isso: quem se atreve a dizer que um samba não pode ter guitarras - pergunte a Jorge Ben Jor -, ou não ter alguma percussão além da bateria? Na seqüência temos "O vencedor" e "Ta bom", ambas de Marcelo Camelo, que promete entrar para a galera dos melhores compositores da música brasileira. Não longe dele em qualidade, tampouco menos original, está Rodrigo Amarante, responsável pelas faixas "Último romance", "Do sétimo andar", "O velho e o moço", "deixa o verão" e "Um par". Já no "Bloco" Amarante possui algumas composições ("Retrato pra Iaiá", "Sentimental", "Cher Antoine"), mas em "Ventura", além de um número maior de letras, vemos um Amarante mais maduro, mais livre em busca de novos meios de dizer o que quer, da maneira que quer. A beleza de suas composições é exatamente essa, dizer as coisas de uma maneira tão pessoal e sincera que muitas vezes chega a ficar quase sem sentido.

Mais "Ventura": "A outra", onde Camelo usa o eu-lírico feminino, lembrando muito umas das características mais marcantes de Chico Buarque; "Cara estranho", o primeiro single do disco e (pasmem!) tocada nas rádios mesmo sem ter um refrão; a singela "Além do que se vê", dedicada a mãe de Camelo e "De onde vem a calma", música que se no disco já é capaz de arrepiar, no show é impossível conter as lágrimas, mesmo para os machões de plantão.

Com "Ventura", a banda se firmou entre os grandes nomes da música nacional - se é que isso ainda existe. É claro que a vendagem desse disco não chegou ao número alcançado pelo primeiro, mas conseguiu algo muito mais gratificante: um público fiel. Mesmo as pessoas que torceram um pouco o nariz para o "Bloco" devido ao debut "Los Hermanos", se rederam ao "Ventura". Talvez o grupo não alcance nunca mais as cifras que alcançaram logo na estréia, mas sempre terá aqueles que conquistaram logo após.

Além de fãs e apreciadores que abraçaram o "Ventura" como um dos melhores frutos do rock nacional nos últimos tempos, existem nesse contexto o mercado alternativo. Por um instante, não houve como não classificar os Los Hermanos como alternativos. Indo contra o mercado fonográfico optando por dois discos capazes de matar qualquer carreira, não há "alternativo" que não idolatre esses quatro cariocas. Entretanto, assim como nós, o quarteto logo sacou que o mercado alternativo é permeado de preconceitos. Cair nesse rótulo era uma maneira fácil de perder a liberdade por eles conquistada. Por isso, quando chamados de alternativos, eles apenas respondiam que faziam o que gostava, e nada além disso.

E que assim continuem.