domingo, outubro 31, 2004

Esta semana:

Belle and Sebastian - If you're feeling sinister (1996)



Belle and Sebastian é uma banda legal. Logo, "if you're felling sinister" também é legal, certo? Certo, mas vale lembrar que esse tipo de regra não se aplica a qualquer um. Existe uma porrada de banda que é legal por natureza, mas capaz de cometer verdadeiras atrocidades musicais. Escolha a sua. Mas, deixando de lado isso, vamos ao exemplo em que a tal regra funciona. "If you felling sinister" é o segundo disco da banda, que começou assim, de uma maneira não muito usual.

Stuart Murdoch (voz e violão), para sua monografia no fim da faculdade, decidiu escrever sobre a formação de uma banda. A partir daí, chamou alguns amigos como Isobel Campbell (violoncelo), Stevie Jackson (guitarra, violão e gaita), Stuart David (baixo), Sarah Martin (violino), Richard Colburn (bateria) e Chris Geddes (teclados), e pronto, estava formada a banda Belle and Sebastian, que recebeu esse nome inspirado num seriado infantil francês da década de setenta, chamado “Belle et Sébastien”. Foi nesse embalo que ficou pronto no começo de 1996 o primeiro álbum, "Tigermilk", com uma prensagem de apenas mil cópias.

Em novembro de 1996 a banda lança "If you're feeling sinister", e mostra que apesar de manter as mesmas influências do primeiro disco, como Smiths ou Orange Juice, por exemplo, o amadurecimento musical já estava acontecendo. A temática das letras desse segundo álbum é ainda continuidade do primeiro - solidão, amor, arrependimento, juventude -, além de manter em algumas o esquema de letras que contam uma história, como um pequeno conto musicado, muito embora sua elaboração seja melhor. Esse é o álbum que consagra de vez a banda no circuito alternativo, coisa que já vinha acontecendo desde antes do lançamento do primeiro álbum.

Ouvir "If you're feeling sinister" é como deitar na cama numa tarde chuvosa e deixar que os sons, independente de quais são, se juntem numa harmonia simples, aconchegante e delicada. Logo na primeira faixa, "Stars Of Track And Field" temos essa impressão: a voz de Stuart Murdoch e seu violão surgem de longe, quase que imperceptivelmente, e ao fim da canção temos uma enxurrada de instrumentos, que soam como uma suave harmonia. Nessa mesma linha estão "Like Dylan in the Movies", "The fox in the snow", "The boy done wrong again" e "Jude and her dream of horses".

Entre as mais, digamos, agitadas do disco estão "Seeing other people", com uma ótima introdução no piano; "Me and the major", uma das melhores letras do disco; "Get me away from here, I'm dying", particularmente a minha favorita, tanto no que diz respeito a letra quanto ao arranjo; "If you're feeling sinister" e "Mayfly". Acho que vale dizer aqui que escolhi a palavra "agitadas" como maneira de descrever como é a música em relação ao restante do disco. Pois agitado no vocabulário Belle & Sebastian está longe do que consideramos agito de fato.

Dito isso, "If you're feeling sinister" foi, na opinião de muitos, o melhor disco da banda até aqui, mesmo tendo lançado outros quatro discos. É claro, a banda, como qualquer outra, tende a mudar um pouco seu som, suas idéias, fazendo com que soe diferente de quando começou. Entretanto, algumas pessoas não gostam muito dessas mudanças. De primeira, a diferença fundamental entre "If you're feeling sinister" e "Dear Catastrophe Waitress", último disco da banda, é a qualidade de gravação. Além da maior presença de guitarras, coisa que não acontecia muito nos discos anteriores.

Por isso, se você quiser conhecer o Belle & Sebastian, ouça todos os discos. E escolha o seu melhor.

domingo, outubro 24, 2004

Esta semana:

Neutral - Neutral (2004)



A banda Neutral tem uma história como tantas outras bandas do circuito underground brasileiro: começa com alguns amigos, a coisa engrena, sai integrantes, entram novos e assim por diante. A única diferença com essa história já conhecida por qualquer pessoa que já se arriscou a ter uma banda é que o Neutral conseguiu vencer essas primeiras dificuldades e em Janeiro desse ano lançou o disco "Neutral", primeiro da banda, pelo selo Minura Records.

"Neutral" é uma junção de toda uma parte da cena hardcore que vemos por aí, seja no "underground" ou no "mainstream". Lá estão as guitarras distorcidas - mas com aquela melodia bem montada que por muitas vezes lembram Offspring -, assim como os vocais ora gritados ora cantados. Se fosse me arriscar em classificar a banda, diria que ela está na linha Emo-core, ou, como queiram, hardcore melódico. Acontece que não vou classificá-la. Aquilo que você ouve durante os quase 33 minutos de disco é Neutral. E ponto final.

Não gostaria que isso soasse de maneira pejorativa, mas o som da banda se parece bastante com CPM22. É claro, diferentemente da banda de Badauí e cia, o Neutral mostra um esquema de composição mais complexo, se arriscando em arranjos vocais mais elaborados e abrindo mão do uso exagerado de backing vocals; e de uma maneira geral, a estrutura das músicas não caem na mesmice que atinge muitas bandas desse gênero, inclusive o próprio CPM22. Ponto para eles.

Como escrito acima, há momentos em que a banda lembra Offspring ("Jubileu"), mas na maior parte do tempo são bandas como Dead Fish e Blink182 que mostram maior influência no som do Neutral. As faixas "Exclusão" e "Life Style Hardcore" dão um bom panorama de como é o som da banda; já "Mosh" dá uma leve demonstração de como é show da banda, enquanto "1 tonelada" mostra um lado mais trabalhado das composições do disco.

Deixando um pouco de lado as músicas em si, o CD mostra uma produção muito bem feita, seja pela qualidade da gravação ou pelo trabalho gráfico, mostrando que existe a possibilidade de fazer um trabalho respeitável, mesmo sendo independente. Que o exemplo seja seguido.

O Neutral é formado por Alan (voz), Carlos (guitarra), Kleber (Guitarra), James (baixo) e Schumacher (bateria). Mais informações sobre a banda, agenda, contado, etc, é só entrar no site deles. Para dar uma ouvida no som, clique aqui.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Especial - Série Cinema

Badly Drawn Boy - About a boy (2002 - trilha sonora)



Começarei essa resenha lançando mão das premissas aristotélicas. "About a boy" - filme baseado no livro homônimo de Nick Hornby - é pop (premissa 1). Badly Drawn Boy fez a trilha de "About a boy" (premissa 2). Portanto, Badly Drawn Boy é pop. Certo? A verdade é que eu nem precisava ter raciocinado assim para chegar a essa conclusão. Bastava apenas ter, ao menos, assistido o filme, que é, decididamente, pop. Talvez não tão pop quanto “High Fidelity” - outro filme baseado num livro de Hornby -, mas ainda assim pop.

Assisti ao filme, mas sabe como é, quando se gosta de uma coisa, não há como evitar. Por isso, fui atrás da trilha sonora. Sinceramente, além do filme, o que mais me levou a ir atrás de tal trilha sonora foi o fato de "High Fidelity" ter uma das melhores trilhas sonoras que já ouvi. Só para adiantar e confirmar uma expectativa aqui: "About a Boy" é um filme, e "High Fidelity" é outro. Logo, as trilhas são diferentes entre si, não dando para separá-las entre melhor e pior. Apenas diferentes. Posto isso, vamos ao disco.

Badly Drawn Boy, o responsável por toda a trilha de "About a boy", é o pseudônimo de Damon Gough, possuidor de uma das mais brilhantes mentes pop da atualidade. Não foi à toa que o próprio Hornby o convidou para fazer a trilha do filme. Canções simples, melodias suaves e marcantes, além das letras por vezes quase ingênuas: Badly Drawn Boy, quando fez a trilha para o filme acertou em dois pontos distintos. O primeiro é escrever a arranjar musicas para dar o clima da cena mostrada na tela. O segundo, e mais difícil, foi acertar a primeira e ainda por cima compor canções que existem por si só, não dependendo da lembrança da cena em que estavam para fazer sentido. Pensando assim, posso citar, por exemplo, "Silent sigh". Não me lembro exatamente em que momento do filme ela toca, mas posso afirmar que cada vez que escuto aquela introdução de piano sinto uma melancolia que apenas as melhores canções pop que conheço me fazem sentir.

Mas "About a boy" - a trilha - não fica por aí. Além de contar até as vinhetas que fazem parte do filme ("Exit Stage right", "Dead duck", "Wet, wet, wet", "Rachel's flat" ), há canções como "A peak you reach" e "Something to talk about", onde a criatividade com os violões e melodias falam mais alto, deixando claro que um dos pontos fortes de Badly Drawn Boy são os violões. Outra canção que merece um destaque especial é "Above you, Below me", uma das melhores composições do disco, seja na letra ou no arranjo de cordas que fazem a base para a música. Entre os pontos altos do disco ao lado de "Above you, Below me" está "A minor incident" - balada voz, violão e gaita digna de repeats e mais repeats -, “River-sea-ocean” - onde é possível se ouvir ecos de Beatles por toda a música - e “Walking out of stride” - uma daquelas canções simples, diretas e inegavelmente emocionantes.

Há faixas, digamos, engraçadas, que mostram a versatilidade de Damon Gough como "S.P.A.T" e "File me away". Nessas fica claro que aquele disco é uma trilha sonora, e não um disco do músico, onde encontramos uma linha lógica na composição. As faixas são boas, é verdade, mas ficam completamente fora do contexto disco. Fugindo um pouco do restante das músicas, "S.P.A.T." possui um ar eletrônico, samplers e programações de baterias, enquanto “File me away”, embora possua também os violões das outras canções do disco, é meio que uma irmã mais calma de "S.P.A.T.", onde essa mistura de “eletrônices” e violões chega numa melodia assoviável e, por que não, agradável de ser ouvida.

E o filme. É claro, se há uma trilha sonora é porque há também um filme. Para saber em maiores detalhes do que exatamente se trata "About a boy" - o filme -, é só dar um pulo no WideScreen. Lá Paul Jones esclarecerá todas as suas dúvidas. E irá um pouco mais além.

domingo, outubro 17, 2004

Esta semana:

Alice in Chains - Facelift (1990)



O Alice in Chains é o exemplo da banda certa no lugar errado. Acaso, destino... Seja como for, eles tiveram a sorte (ou azar) de estar em Seatlle quando o Nirvana e a trupe grunge tiveram todos os holofotes voltados para eles. E acabaram, é claro, sendo taxados de grunges. Fato que talvez não seja todo verdadeiro, pois além das influências vindas do Heavy Metal e do Hard Rock, o Alice in Chains possui um som muito particular. E sabe como é, nem todo mundo que tocava em Seatlle era grunge, assim como nem todo metaleiro é insensível.

Olhando Facelift - primeiro disco da banda - hoje, depois de mais de dez anos de seu lançamento, fica clara que as influências do heavy metal do Black Sabbath e do hard-rock são muito mais acentuadas do que enxergamos em "Bleach", do Nirvana, por exemplo. Logo, é difícil classificar a banda como sendo grunge, principalmente depois de acompanhar bandas como Megadeath, Van Halen, Slayer e Anthrax em algumas turnês. Entretanto, logo após a estréia do clipe de "Man in the box" na Mtv em meio a febre grunge, e a gravação de "SAP" - um EP com quase todas as faixas acústicas e com participações de Chris Cornell(Soundgarden) e Mark Arm (Mudhoney) - a banda se enquadrou, historicamente, entre o movimento que marcou a música no início dos anos noventa.

O ponto é que, mesmo com esse enquadramento, ao ouvir Facelift temos a impressão inegável de que sim, talvez exista alguma coisa grunge ali, mas, definitivamente, os rumos musicais do Alice in Chains são outros. Logo na primeira faixa do disco ("We Die Young") vemos Tony Iommi por detrás do riff de Jerry Cantrell, além dos vocais marcantes de Layne Staley, características essas que permeiam todo o trabalho do grupo; na seqüência está a falada "Man in the Box", riff mais do que conhecido por quem ouvia rock pelos idos anos noventa, e talvez a música mais inclassificável da época: não é pesada o suficiente para ser considerada heavy metal, em contrapartida, pesada demais para colocá-la ao lado de outras canções marcantes do grunge. Esse talvez seja o ponto mais marcante do Alice in Chains, é extremamente complicado definir o som deles.

Outra característica forte de Facelift são as baladas que, no mínimo, fazem com que um arrepio suba coluna acima. Entre essas estão, "Bleed to Freak", "I can't remember", "Confusion" e "Love, hate, love", onde arranjos lentos e pesados fazem a cama para letras como "You told me I'm the only one/Sweet little angel you should have run/Lying, crying, dying to leave/Innocence creates my hell"("Love, hate, love"), ou "These stand for me/Name your god and bleed the freak/I like to see/How you all would bleed for me"("Bleed to Freak"). Isso sem mencionar os vocais de Staley que dão às músicas o complemento exato para a criação dessa atmosfera sombria.

E ainda há faixas improváveis como "I know somethin (Bout you), que não seria exagero dizer que é possível encontrar alguma coisa de Red Hot Chilli Peppers por ali, ou "Put you down" que foge um pouco ao estilo visto nas primeiras faixas do disco.

Ou seja, de uma maneira geral, Facelift é um disco essencial para quem gosta de música. Quase tudo que seria visto nos próximos trabalhos do Alice in Chains - "Dirt" (1992) e "Alice in Chains" (1995) - estão lá, talvez de maneira pouco desenvolvida, mas inegavelmente estão lá. E só para lembrar, depois de "Alice in Chains" de 1995, a banda lançou "Alice in Chains - Unplugged Mtv" em 1996, "Nothing safe" (coletânea) em 1999, "Live" em 2000 e "Alice in Chains - Greatest Hits" em 2001. A banda terminou oficialmente em 2002, com a morte do vocalista Layne Staley devido a uma overdose.

domingo, outubro 10, 2004

Esta semana:

Mombojó - Nadadenovo (2003)



Eu sei, a voz até lembra um pouco Jorge Ben Jor. É verdade, aquelas batidas, o esquema da música lembra também Pedro Luiz e a Parede. Bom, na verdade mesmo, parece uma mistura de ambos, certo? Lembra também Mundo Livre S/A... Além disso, concordo com você, de primeira soa estranho, difícil de digerir, mas logo depois, ali, quase no fim do primeiro repeat, a coisa toda muda de figura.

O primeiro ponto que chama a atenção em "nadadenovo" é a massa sonora que cada música trás. Diga-se de passagem, cada música é uma peça por si só, criam seu próprio ambiente e a partir daí se desenvolvem segundo seu próprio fluxo. É uma torrente de flautas, teclados, samplers, cavacos, violões, violas, baixos e baterias, loops, e por aí vai. Poderia até ser que a mistura dessas coisas não desse um resultado lá muito bom - e muitas vezes não dá. Entretanto, no caso do Mombojó, acontece o contrário, e "nadadenovo" é intrigante, envolvente e, porque não, único.

Esse é o primeiro disco da banda. Formada em 2001 na cidade de Recife por Felipe S. (voz), Samuel (baixo), Vicente Machado (bateria), Marcelo Machado (guitarra), O Rafa (flauta), Chiquinho (teclado e sampler) e Marcelo Campello (violão, cavaquinho e escaleta), o disco "nadadenovo" conseguiu uma divulgação nacional ao ser lançado na "revista do Lobão" chamada "OutraCoisa". Mas podemos ver esse lançamento através da revista como um catalisador, pois era uma questão de tempo para que o som da banda chamasse a atenção.

Duvida? Então ouça, por exemplo, "Cabidela" e preste atenção não só nos sons por detrás da música, mas também na melodia da voz. Ou melhor, ouça também "O céu, o sol e o mar", "Adelaide", "Duas cores"... Enfim, ouça o disco inteiro. Uma dica: no site da banda tem o disco todo em mp3, então, não há desculpa para ouvir pelo menos uma das quinze faixas que compõe o disco. Mas quem avisa, amigo é: ouvir uma faixa só é perder um dos melhores discos desse ano.

De uma maneira geral, podemos encontrar no som do Mombojó climas muito particulares, letras que se fazem simples aos nossos ouvidos, mas que guardam "n" interpretações possíveis, experimentalismo latente e psicodelia gritante. "Nadadenovo" é isso. E mais um monte de coisa.

quarta-feira, outubro 06, 2004

Extra:

Kurt & Courtney - Documentário (1998 - DVD)



Grande parte daqueles fãs incondicionais do Nirvana não gosta da Courtney Love. E mesmo quem não é fã do Nirvana tem lá suas restrições para com a ex-vocalista do Hole. Ok, muita gente também não gostava da Yoko Ono, e isso é uma questão de opinião, simpatia, e mais um monte de coisas pessoais. Logo, não entrarei nesse mérito. Entretanto, fica claro no documentário "Kurt & Courtney" que o diretor Nick Broomfield não vai muito com a cara da ex-esposa do vocalista do Nirvana (muito embora esse não seja o assunto principal desse vídeo).

O documentário em si não vale a pena. Longe de chegar a alguma conclusão, Nick Broomfield se limita a superficialidade da morte de Kurt Cobain. Como já é de conhecimento de todos, Kurt se matou em 4 de Abril de 1994, e seu corpo foi encontrado por um eletricista no dia 8, quando iria fazer alguns reparos na casa. Até aqui, tudo bem, afinal, como dizem alguns, Kurt era um cara extremamente depressivo, e, além disso, tanto sua criatividade quanto seu casamento já davam sinais de cansaço. Situação propícia para um sujeito como Kurt dar um tiro na cabeça.

Muito embora existam esses fatos, há pessoas que não acreditam que a história tenha sido bem assim. Movidos, talvez, pela antipatia para com Courtney, ou pela não aceitação de que mesmo um cara com a genialidade de Kurt poderia cometer um burrada como essa, alguns acreditam que o que aconteceu no dia 4 não foi um suicídio, mas um assassinato. Pegando o embalo desses, o documentário "Kurt & Courtney" tenta encontrar alguns indícios de que essa teoria de conspiração seja verídica e, de quebra, encontrar ligações com Courtney. Para tal empreitada, Nick Broomfield vai até Abeerdem, cidade onde Kurt nasceu, para tentar reconstruir a trajetória do músico, desde sua infância um tanto quanto conturbada até seus dias de fama, dinheiro e heroína.

Talvez esse seja o melhor ponto do documentário: trazer a realidade de onde Kurt cresceu e viveu. Algumas entrevistas com pessoas que fizeram parte do começo da vida do música também são bons indícios de que toda aquela angústia nas músicas do Nirvana são reais. Por exemplo, a entrevista com Mary, tia de Kurt. Era na casa dela que Kurt fez suas primeiras gravações, e fico claro a ligação que ela tinha com ele, seja na maneira pela qual fala do sobrinho ou pela emoção aparente quando mostra fitas gravadas por Kurt com três anos de idade. Há também uma entrevista com Tracy Marander, namorada de Kurt que morou com ele por algum tempo, no qual vemos o lado artista plástico do músico, além de dar um bom panorama de como era a realidade de Kurt quando o Nirvana foi montado.

Outras entrevistas foram feitas para o vídeo: Tom Grant, detetive particular contratado por Courtney quando Kurt fugiu do Centro de Recuperação Exodus, em Marina Del Rey, clinica de reabilitação onde ele estava internado; El Duce, vocalista da banda The Mentors, que teria recebido uma proposta para matar Kurt, mas negou acreditando ser uma piada; Dylan Carlsson, amigo de Kurt, monossilábico, confuso e distraído; Hank Harrison, pai de Courtney e inimigo número um da própria: pouco pode ser aproveitado dessas entrevistas, que parecem terem sido feitas apenas com o intuito de confirmar o assassinato de Kurt e o envolvimento de Courtney no caso. E, além disso, não é feita uma só entrevista com pessoas que possivelmente mostrariam o lado da Sra. Cobain, fazendo do documentário algo completamente parcial.

Mas é claro que Courtney Love não é flor que se cheire. A mesma não liberou as músicas do Nirvana para o documentário, assim como tentou não deixar que o projeto fosse concluído. Numa carta enviada à produção, um advogado da mesma diz o seguinte: "Ms. Love currently has no dispute of any sort with you, and does not want one. However, if you display Mr. Broomfield's film, or offer a forum for Mr. Broomfield or Mr. Harrison to speak, then under California law you are equally liable with them for the damage caused by any false and malicious statements about Ms. Love, as though you and the Roxie had made the defamatory statements directly. It does not matter whether you claim to take a position of "neutrality." By choosing to display the film or provide a forum for them to speak, you are endorsing and participating in their actions and statements, and are liable along with them for any resulting damage".

E não, o documentário não foi concluído, assim como a busca de Nick Broomfield para encontrar a verdade no que diz respeito a morte de Kurt Cobain. Ou seja, de uma maneira geral, "Kurt & Courtney" não contribui em nada o debate acerca do assunto, apenas joga mais lenha na fogueira. Entretanto, para quem quiser ler mais sobre o assunto, existe uma pancada de livros, inclusive "Kurt Cobain, Beyond Nirvana: The Legacy of Kurt Cobain", escrito pelo pai de Courtney, que foi base para esse documentário, além dos sites: In defense of Kurt Cobain, The Smoking Gun, Justice for Kurt Cobain. Agora, se você gosta mesmo do Nirvana, vai ouvir o "In Utero" que você ganha mais.

domingo, outubro 03, 2004

Esta semana:

Silverchair - Frogstomp (1995)



Há dez anos atrás, o sonho que qualquer garoto que pegasse uma guitarra nas mãos era a) ter uma banda, e b) assinar contrato com uma gravadora e gravar seus discos. Isso em qualquer lugar do mundo, seja aqui no Brasil ou na Austrália, país de origem da banda em questão. Seja como for, esses eram os sonhos, e como todos os garotos, sempre acreditamos que as coisas mais improváveis possam acontecer. E podem ter certeza que quando Daniel Johns, Chris Joannou e Ben Gillies montaram o Silverchair com seus treze anos, eles acreditavam nessas coisas improváveis. E deu certo.

Em meio a onda grunge da década de noventa, mais precisamente no ano de 1992, nasceu uma banda chamada "the Innocent Criminals" em Newcastle, na Austrália. Nem é preciso dizer quais eram suas influências mais diretas: Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden e todas aquelas bandas de Seatlle. Em 1995, "the Innocent Criminals" mandaram uma demo para um programa de rádio chamado 2JJJ-FM, e entre mais de 800 demos enviadas para um concurso feito pela rádio, "Tomorrow" foi a escolhida. O prêmio era a gravação de um clipe e o contrato para a gravação de um CD. Improvável, não acha?

De contrato assinado, "the Innocent Criminals" acabou virando "Silverchair" (há quem diga que o nome "Silverchair" foi criado a partir de um anagrama de "Sliver", música do Nirvana, com "Berlin Chair", uma música da banda You Am I, de grande sucesso na Austrália dos anos noventa), e o single "Tomorrow", vencendor do concurso, estava constantemente entre as músicas mais tocadas na rádio. Com o segundo single, "Pure Massacre", a história não foi diferente. Por isso, em Janeiro de 1995, Frogstomp já estava entre os discos mais vendidos na Austrália, e em pouco tempo estaria conquistando também a América.

É claro que isso não foi à toa. Frogstomp é um disco cheio de guitarras pesadas, vocais ora gritados ora melódicos e tudo mais o que reza a cartilha grunge. Tais coisas levaram à comparação inevitável com Pearl Jam (seja a maneira de cantar de Daniel Johns comparada exaustivamente a de Eddie Vedder ou mesmo o clipe de "Tomorrow", comparado a "Jeremy"), Soundgarden ("Israel Son" x "Outshined") e Alice In Chains ("Suicidal Dream" x "Bleed The Freak"), mas a verdade é que Frogstomp foi composto em meio a todas essas bandas por caras de quinze anos, e dificilmente sairia diferente do que foi.

Por isso, o que vale é ouvir Frogstomp por si só. Dessa maneira encontraremos guitarras pesadas e vocais gritados à la grunge em "Israel Son", música que abre o disco e "Suicidal Dream", melodias de voz e guitarras bem estruturadas como em "Shade", ou uma levada punk em "Findaway", música que fecha o álbum. É certo que as composições de Frogstomp são ingênuas - e que a maturidade dos integrantes da banda levaram a discos mais complexos como "Diorama", o último lançado até então -, mas isso não faz do disco ruim. Muito pelo contrário, é essa sinceridade que contagia nos quase 45 minutos de Frogstomp.