quarta-feira, dezembro 29, 2004

Extra:

Semisonic - All About Chemistry (2001)



E aproveitando a exposição proporcionada pelo "sucesso" de "Felling Strangely Fine" (1998), o Semisonic lançou em 2001 seu terceiro álbum, "All About Chemistry". Vale lembrar que mesmo lançado em 1998, "Felling..." só vingou entre 1999 e 2000, com as músicas "Secret Smille" e "Closing time" tocando discretamente em algumas rádios e séries de televisão. Portanto, a data entre o lançamento dos discos é aceitável, mesmo sendo um longo intervalo de três anos. Antes de comprovar seu valor monetário, o Semisonic era um investimento de risco à gravadora, mercadologicamente falando. E, como foi visto, o investimento em "All About Chemistry" não foi o que costumamos chamar de investimento seguro, provando mais uma vez que este ‘mercadologicamente falando’ nem sempre acerta. Ou melhor, quase nunca acerta quando temos em mãos músicas pop.

Em "All About Chemistry" o mesmo pop de "Felling Strangely Fine" é ainda a tônica das composições da banda, mas algumas diferenças são notadas logo nas primeiras faixas: há algo de experimental no som do Semisonic que decididamente não fez parte do disco anterior. Não só isso, diferentemente dos outros discos, neste prevalece o piano como base de quase todas as músicas, deixando para trás os violões que seguraram as faixas de "Felling..." O resultado disto, no fim das contas, não muda tanto o som da banda, posto que o cheiro de experimentalismo ao qual me referi acima está mais ligado a combinações vocais ou adição de novos instrumentos/efeitos do que a utilização privilegiada de pianos em relação a violões.

Fato é que, talvez, devido ao experimentalismo no qual a banda se arriscou, o disco não se sustenta. Há raras composições boas, e por isso, ao ouvir "All About Chemistry", percebesse uma banda que se arrasta por entre os pouco mais de cinqüenta minutos de disco. A sensação é de que, na verdade, o experimentalismo não passa de uma tentativa desesperada de inovação do som, mas sem saber ao certo que caminho seguir. É claro, esta busca é válida, mas é inegável que acabou por fazer "All About Chemistry" um disco fraco, no qual mesmo as baladas que faziam uma base firme para "Felling..." não foram capazes de agüentar este novo trabalho do Semisonic.

"Chemistry", a faixa que abre o disco e primeiro - se não me engano, único - single da banda é a que mais se aproxima do trabalho anterior. Retomando a levada pop de "Closing time", a melodia grudenta-chiclete fica ecoando na cabeça dias após uma simples audição desta canção. Seguindo ainda a linha das "melodias-grudenta-chiclete" há "Follow", uma daquelas músicas que caem como uma luva para cenas de comédias românticas, assim como "I wish" e "Surprise". De certa maneira, estas seriam a tentativa de equilíbrio do álbum, pois se o experimentalismo era quem guiava a banda, também era claro que eles deveriam fazer aquilo que os consagrou no trabalho anterior, afinal, era o que não só os fãs estavam esperando, mas a gravadora também.

Cumprindo com o que era esperado da banda, encontramos no restante do álbum tentativas como "She's got my number", "Sunshine and Chocolate" e "Who's stopping you?" que não chegam a lugar nenhum. As melodias, antes de elaboradas, são confusas, causando uma má impressão em relação não apenas a estas canções, mas ao trabalho inteiro. Ou seja, estas tentativas frustradas levam, por sua vez, o álbum inteiro a lugar nenhum, pois a sensação que fica após terminado o disco é a de que cada canção é um recorte, uma peça isolada que, colocadas lado a lado, acabaram por parecer uma colcha de retalhos.

Longe da já não tão grande vendagem que "Felling..." alcançou, "All About Chemistry" foi o último disco inédito da banda, que teve seu contrato rompido com a MCA Records. Em 2003 a banda lançou de maneira independente "One Night at First Avenue", um disco ao vivo onde os melhores momentos da "meteórica" carreira da banda são revistos, indo do Ep "Pleasure" de 1995 a "All about Chemistry" de 2001. Não perdendo tempo, a MCA lançou no mesmo ano "Millennium Collection - 20th Century Masters - The best of Semisonic", uma coletânea que privilegia os dois trabalhos da banda lançados pela gravadora, "Felling Strangely Fine" e "All About Chemistry".

sábado, dezembro 25, 2004

Esta semana:

Barão Vermelho - Barão Vermelho (2004)*



A história do Barão Vermelho está estritamente ligada a uma parcela da história do rock nacional. Não só porque Cazuza foi vocalista da banda, ou pela carreira de mais de vinte anos, mas principalmente por trazer ao rock brasileiro um som forte e marcante, que muitas vezes segue a linha do rock n' roll propriamente dita, flertando com o blues e outros estilos fundantes do que hoje chamamos (e amamos) de rock. É claro que mais de vinte anos de carreira não deixariam a banda sair ilesa, afinal, errar é humano. O mais recente desses tropeços foi "Puro Êxtase", álbum lançado em 1998, onde ocorreu uma grande confusão entre o rock e o eletrônico, o exagerado e o ridículo e outras coisas mais. Rejeitado pela crítica, esquecido pelo mercado e ignorado pelos fãs, "Puro Êxtase" marcou negativamente o início das férias da banda, que antes de abandonar mesmo os instrumentos ainda gravou o "Balada MTV" em 1999 e fez o Rock in Rio em 2001.

A parada foi de cinco anos, rendendo a Frejat dois discos em sua carreira solo ("Amor Pra Recomeçar" de 2001 e "Sobre Nós Dois E O Resto Do Mundo", de 2003); já Peninha, o percussionista, montou sua própria banda; o baixista Rodrigo tocou no acústico Kid Abelha e Fernando Magalhães, o guitarrista, além produzir os Detonautas, montou um selo. E para os fãs, estas férias renderam uma questão: era o fim do Barão Vermelho? A resposta era que cada um estava cuidando de seus projetos, etc, etc, como toda resposta clássica de bandas que não sabem exatamente qual será o futuro. A pulga na orelha só deu trégua agora no fim do ano, com o lançamento de "Barão Vermelho", disco de retorno a labuta da banda.

Com o CD em mãos, mesmo antes de ouví-lo, podemos fazer duas proposições: primeira, o disco talvez seja homônimo para dar a impressão de um retorno às raízes da banda, deixando claro logo na capa que o lado experimental de "Puro Êxtase" parou por lá mesmo. Ainda no encarte, notamos que a produção desse novo trabalho tem a assinatura do falecido produtor musical Tom Capote, o querido de dez entre dez nomes da música nacional contemporânea, e de Ezequiel Neves. A segunda proposição seria, então, de que apenas através da lista de nomes que constam no currículo destes dois, este disco seria, no mínimo, bem produzido. Para tranqüilizar a todos, ao ouvir "Barão vermelho" temos a confirmação dessas duas proposições, e alguns alívios.

O primeiro grande alívio foi que este novo disco está longe de seu antecessor, "Puro Êxtase": abrindo mão de experimentalismos, o Barão voltou a fazer o rock n' roll que consagrou a banda. O segundo foi notar que a carreira solo de Frejat está numa prateleira, enquanto o Barão está em outra. Era de se esperar tal fato, pois o pop-certinho do vocalista não caberia no som da banda, e se por acaso neste disco coubesse, teríamos um problema nas mãos. Por último, a sonoridade vista em "Álbum" (1996) - guitarras que se destacam, levada reta de baixo e bateria simples - é retomada nesse novo trabalho, ou seja, mais Barão Vermelho impossível.

A faixa de trabalho - "Cuidado" - serve apenas para nos mostrar que o Barão voltou, se recuperou do último erro, aproveitou as férias e agora está de volta. "Cara a cara", música que abre o disco, reafirma o primeiro single, mostrando que logo após o play o Barão Vermelho está de volta, rock n' roll como sempre, e tudo isso pode ser visto apenas pela introdução da música. Entretanto, mesmo depois de tais impressões, ao ouvirmos o disco inteiro, notamos que "Barão Vermelho" é um trabalho que quase se desequilibra, pois não possui um meio-termo: Se por um lado há canções no melhor estilo barão-vermelho-pós-Cazuza como "Mais perto do sol", "Tão inconveniente", "Máquina de escrever" e "Só o tempo", que são músicas fortes e características da melhor fase da banda, onde riffs de guitarras seguram o peso das canções, por outro encontramos as baladas, que sendo maioria dentre as músicas do disco, acabam por quebrar o ritmo contagiante das outras músicas do trabalho. Estão nesta lista "A chave da porta da frente" - estilo Santana para uma declaração de amor tão direta quanto bonita -, "Pra toda a vida" - guitarra slide para clima praiano -, "O dia em que você me salvou" - forte concorrente a hit do verão 2005 -, e "Cigarro aceso".

"Barão Vermelho" é, de maneira geral, um disco que não arrisca muito, no qual o Barão faz aquilo que sabe, sem muitos devaneios. As baladas acabam deixando o disco um pouco monótono, como observado acima, mas tendem a agradar fãs, admiradores e ouvintes de FM. Disco certeiro para o verão, é muito provável que sua vendagem seja grande, devido ao não sem querer lançamento próximo ao fim do ano. Mas à parte tudo isso, "Barão Vermelho" marca o retorno de uma das bandas mais importantes do rock brasileiro, que, por sinal, anda um pouco carente de boa música.

*Resenha publicada no site Poppy Corn

domingo, dezembro 19, 2004

Esta semana:

Ira! - Acústico MTV (2004)



O Ira! sempre foi uma banda constante: depois de dois primeiros discos muito bons, eles tomaram para si o comando de sua carreira e seguiram seus instintos. É claro que tal ato não sairia barato, por isso, mesmo lançando o ótimo "Psicoacústica" em 1988, foram taxados como incompreendidos e à partir daí amargaram um ostracismo ferrenho. Pra alguns, este seria um preço muito caro, um knock-out no 1º round, mas ao que parece, foi depois desse baque que a personalidade da banda começou a se sedimentar.

Desde então, o Ira! segue uma carreira linear. Não há nenhum grande sucesso entre seus discos, e mesmo os tropeços não são tão grandes assim, fazendo valer a máxima que reza ser o tombo proporcional a altura. Os últimos três discos da banda mantêm a linha discreta: "Isso é amor" (1999) trouxe a banda de volta as paradas com a música "Bebendo Vinho", cover do gaucho punk-brega Wander Wildner. No ano seguinte sairia o "Ao vivo MTV" em comemoração aos vinte anos de banda. Recheado de sucessos da banda, o disco rendeu cerca de 160.000 cópias vendidas e um show no Rock in Rio III para aproximadamente 250.000 pessoas. Aproveitando a maré alta, sai em 2001 "Entre seus rins", disco de inéditas que não conseguiu manter o patamar estabelecido pelo anterior, fato que não chega a surpreender.

Três anos depois, o quarteto paulista volta com mais um projeto MTV, dessa vez um disco acústico. Hoje em dia, é complicado pensar num acústico sem ter uma pulga atrás da orelha. A lista das bandas dos anos oitenta que aderiram ao formato é enorme, e as desculpas das mais variadas. Acontece que a Ira! está na ativa, logo não é um show especial com a volta dos integrantes original; os vinte anos de carreira já foram comemorados com o "Ao vivo"; e a vendagens caíram com o fraco desempenho de "Entre seus rins". Ou seja, tudo nos leva a crer que caímos certinho nessa armadilha.

Apertar play é uma tarefa difícil quando temos os pensamentos acima citados rondando a cabeça, e a coisa piora quando, com o encarte em mãos, percebemos que a primeira faixa ("Pra ficar comigo") é nada menos do que uma versão para "Train in vain", do Clash. Esse não seria o primeiro grande pecado do Ira!, já que no disco "Meninos da rua Paulo" (1991) há "Você ainda pode sonhar", uma versão para "Lucy in the sky with diamonds", dos Beatles. O negócio é respirar fundo e mergulhar. E após quase 60 minutos imerso no mundo acústico do Ira!, o resultado final agrada. É claro, para não correr o risco, além de músicas como "Envelheço na cidade", "Tarde Vazia" ou "Flores em você", há convidados que agradarão a "velha guarda" (Os Paralamas do Sucesso) e a "jovem guarda" (Samuel Rosa e Pitty). Mas sejamos justos, músicas como "O Girassol" - do disco "Sete" (1996) -, "Rubro Zorro" - "Psicoacústica" (1988) - e "Boneca de Cera" - "Clandestino" (1989) - também estão no CD, e de certa maneira equilibram o show.

As músicas, de uma maneira geral, não fogem muito das versões originais. "Dias de luta", por exemplo, ganhou um clima Spanish guitar/western, preparando o ouvinte para "Rubro Zorro"; "Flores em você" ficou mais enxuta, e não menos bonita, fato que se repete em "Boneca de Cera" e "Eu quero sempre mais", esta com participação de Pitty. Das inéditas, temos "Flerte Fatal" - uma das melhores do disco -, "Por amor" - composição de Zé Rodrix -, Poço de sensibilidade" e "Pra ficar comigo" - a assustadora versão do Clash. Há também "Muito além do jardim", mas essa está presente só no DVD.

Até então, o "Acústico MTV - Ira!" já vendeu cerca de 50.000 cópias, e "Tarde vazia" (com a participação de Samuel Rosa) está nas paradas das rádios Brasil à fora. Entretanto, é preciso cuidado com esse tipo de coisa, pois é muito provável que ocorra uma repetição da história: o próximo disco da banda, assim como "Entre seus rins", talvez não alcance esse acústico, não só na vendagem, mas também na aceitação do público, o que não significa um problema na carreira da banda, mas apenas um novo retorno aos patamares reais de uma banda com mais de vinte anos de estrada.

sábado, dezembro 18, 2004

Maquinário pela internet

* No Poppy Corn desta semana saiu a resenha do novo disco do Barão Vermelho, que logo estará aqui. Se a pressa apertar, clique aqui e veja o que escrevi sobre Frejat e cia.

* A resenha de "Facelift", do Alice in Chains, que está aí no arquivo do Maquinário também pode ser encontrada no Whiplash, em Reviews de CDs (Clássicos). Ou melhor, clicando aqui.

Dicas dadas, agora é só clicar.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Extra:

U2 - How to Dismantle an Atomic Bomb (2004)



Depois de quase trinta anos de carreira, correndo por entre vários estilos e poses, indo na "contramão da contradição", o U2 está de volta num dos períodos mais conturbados da história dos Estados Unidos. E é claro que o disco estaria ligado a essa realidade paranóica norte americana, afinal, depois de vocalista de uma das bandas mais importantes da música mundial das últimas décadas, Bono Vox se meteu até em pedidos de perdão da dívida externa. Acontece que o U2 não é apenas Bono, por isso, ao ouvir o esperado How to Dismantle an Atomic Bomb é importante ter em mente o trabalho do U2 como um todo. Partindo deste ponto, e vendo não só a carreira, mas este disco como um todo, é possível perceber que a proposição da banda para desativar uma bomba atômica, mesmo com todas as tendências político-ativistas que passaram a fazer parte das características do U2, é mais óbvia - e em aspectos práticos, utópica - do que parece.

Desde a gravação deste disco, a banda vinha dizendo que seria cru, pesado e cheio de guitarras, quase uma versão mais suja do que é visto no trabalho anterior, "All that you can't leave behind", de 2000. E, de fato, o que sentimos quando terminado "How to dismantle...", é exatamente isso: a quase continuação de um trabalho. Há momentos com na música "Miracle Drug", que poderíamos afirmar categoricamente ser sobra de estúdio do disco anterior. Entretanto, há também canções como "Vertigo", o primeiro single, que estrapolam a proposição "All that you can't..." devido ao som cru e direto, longe das guitarras suaves vistas antes. Ou seja, a banda busca o peso que não se arriscou a procurar no disco anterior, mas mantém a suavidade que caracterizou a maioria das canções do último trabalho.

"How to Dismantle an Atomic Bomb" foi lançado em Novembro deste ano, mas antes disso já estava circulando pela internet uma versão não remixada do disco, que apesar de adiantar ao publico algumas músicas, não dava a noção exata do que se tratava esse novo trabalho da banda. E exatamente por isso surgiram rumores negativos sobre o disco, antes mesmo de chegar as lojas. Quando finalmente lançado, o CD causou uma certa estranheza devido a uma questão lógica: sendo praticamente uma continuação de seu antecessor, "How to dismantle" dificilmente agradaria aqueles que não gostaram do disco de 2000. E esses, infelizmente, eram maioria.

O ponto é que este novo trabalho do U2 demora um pouco para ser digerido. Ele é cru, lembra o disco anterior e, em se tratando de U2, a expectativa é grande em relação ao um novo trabalho. Portanto, fica claro que um disco como este geraria um mal-estar, mesmo sendo o desconforto passageiro. Um exemplo disso é "Love and Peace or Else": é preciso alguma paciência para assimilar a primeira estrofe e as guitarras sujas que surgem depois, mudando o rumo da música; "All because of you" segue a mesma linha de "Vertigo", uma canção direta e de peso, a diferença está na dobra de voz deixa transparecer um pouco do U2 que todos conhecem, além de ser mais pesada do que sua companheira de álbum. Logo, é necessário perder algum tempo, e apertar alguns repets para assimilar esta parte do álbum.

Em contra-posição a estas primeiras estranhezas, há canções que acalmam o mais afobado dos fãs. "City Of Blinding Lights" é uma daquelas canções inegavelmente U2, assim como "One step closer", onde as tão conhecidas guitarras cheias de Delay de The Edge se mostram, mesmo sendo a música uma balada sem grandes surpresas. Ainda na linha de baladas, há "Original of the Species" e "Yahwen", duas belas canções que se encarregam de fechar o disco e - não devido a temática, mas aos arranjos - agradar aos fãs das conhecidas “With or without you” ou “Walk on”.

De certa maneira, e a partir de uma visão bem pessoal deste trabalho, a banda propõe que a guerra ("Love and Peace or Else") nos leva a momentos de não saber o que fazer ("Sometimes You Can't Make It on Your Own"), por isso do desejo de uma droga milagrosa, através da qual é possível ver o mundo como os outros o vêem ("Miracle drug"). No fim, todos querem a paz ("City of Blinding Lights"), e esta, apenas através do amor ("A man and a woman") será alcançado, pois com ele podemos tudo, inclusive evitar/acabar uma guerra, ou metafóricamente falando, desarmar uma bomba atômica. Quando entendermos isso, estaremos a um passo ("One step closer") de ser a origem de uma nova espécie ("Original of the species"), capaz de deixar para trás o que somos hoje, e deixar a cargo de Deus ("Yahwen") as mudanças necessárias. Claro, cada música possui uma interpretação própria - por exemplo, o fato de "Sometimes You Can't..." ser uma homenagem de Bono a seu falecido pai -, mas como disse, está é uma interpretação geral e, principalmente, pessoal

Façamos o seguinte: ouça o disco, pois assim, além de curtir um dos melhores lançamentos de 2004, poderá ter seu próprio entendimento de como desmontar essa bomba atômica de canções chamada U2.

domingo, dezembro 12, 2004

Esta semana:

Gonococos - O sonho não pode acabar (2004)



O pop, como todos os gêneros musicais, possui várias facetas. Motivo de rixa entre puritanos e experimentalistas, essa discussão já rendeu folhas e mais folhas, e é claro, nunca chegou a lugar nenhum. Talvez o primeiro motivo disso esteja no fato de ser quase impossível definir o que é o pop puro. Pense. Não é tão fácil assim. Por isso, vamos deixar de lado tal conversa, e ir à música, pois no fim, é ela quem nos acompanha no carro, em casa e, para alguns como eu, durante a vida inteira.

Está cada vez mais difícil encontrar bandas com a proposta de um pop limpo, sem interferência de outros estilos ou tendências. Entretanto, mesmo o underground sofrendo essa invasão de bandas onde o pop é levado a caminhos diversos, ainda há quem aposte num som simples, assoviável e letras onde a temática não varia muito além do amor e suas vertentes (amor não-correspondido, impossível, do dia-a-dia, etc). E foi seguindo exatamente essa linha que a banda campineira Gonococos lançou seu primeiro CD, "O sonho não pode acabar".

É quase impossível não perceber influência de bandas como Jota Quest, Skank ou LS Jack nesse primeiro trabalho da banda. Aproveitando-se do que alguns apontam como o problema do pop por ele mesmo - a falta de originalidade -, o Gonococos faz um som sem muitas surpresas, mas tão fiel a cartilha pop que não será nada surpreendente se alguma daquelas canções ficarem se repetindo incansavelmente em sua cabeça após ouvir ao disco. É muito provável que o refrão de "O Sonho" - responsável pela abertura do CD - esteja entre as mais tocadas do seu subconsciente, assim como a melodia de "Não posso te perder" seja a mais assoviável das canções da semana. Dentre as músicas mais "pegadas" do disco, o ponto alto é "Ela não estava aqui", um pop certeiro que sem maiores dificuldades cairia nas graças de onze entre onze ouvintes das FMs país à fora.

E como todo bom disco pop, não poderiam faltar as baladas. Violões, pianos, os climas confessionais das letras e todos os ingredientes para uma boa balada estão lá. Os violões falam mais alto nas faixas "O luar" - balada fácil para trilha sonora de romances e afins - e "Tudo vai brilhar" - violão e guitarra num dueto já conhecido, além de vocais onde a influência do Jota Quest mostra sua maior força. A última faixa do disco - "Eu quero" - é a típica balada estruturada como "Easy" (do "Faith no More", lembra?): levada inteira no piano, um solo de guitarra e a chave de ouro para um disco com a proposta desta banda.

Ou seja, como pop não faz mal a ninguém, não custa nada dar um pulo no site do Gonococos e ver o que andam fazendo Taka (Vocal e guitarra), Marcelinho (baixo), Dittrich (guitarra) e Fernando (bateria). Além da agenda, há milhares de fotos, contato e outras coisas mais.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Enquanto isso...

O Poppy Corn publicou a resenha do Engenheiros do Hawaii que está aí embaixo.

Aproveite para conhecer o site, que também abre espaço para cinema, literatura, televisão e outras coisas. Vale a pena.

quarta-feira, dezembro 08, 2004

Especial - AutoRock

AutoRock 2004
Vamos à prática. O II Festival AutoRock acontecerá do dia 12 ao dia 18 de Dezembro no Centro Cultural Evolução, em Campinas. Os ingressos são R$ 8,00 por dia, ou na promoção de R$ 18,00 para o pacote contendo ingressos dos dias 16, 17 e 18/12 - apenas os 200 primeiros. A programação é a seguinte:

Dia 12/12 - Numa parceria com o projeto da Prefeitura de Campinas "Ruaminha", a abertura do festival será feita na rua Campos Salles (ao lado do Centro Cultural Evolução), e a entrada é gratuita. A partir das 13hs tocarão as bandas:
DJAMBLE (Limeira)
VIOLENTURES (Campinas)
SCARLET O’HARA (Campinas)
ALL JOCKERS (Campinas)
ACAO TOXICA (Pirassununga)
MOBILETES GO (Campinas)

Dias 13, 14 e 15/12 - Haverá exposições e vídeo bar, à partir das 19hs. Os expositores são:
DANIEL ETE (Campinas)
CARLOS DIAS (SP)
MARCELO BELO (Campinas)
RONALDO MIURAO (Campinas)
FABIO BITTENCOURT (Campinas)
SYLVIE PICOLOTTO (Argentina)
EDUARDO VAZ (Campinas)
ALESSANDRO PSYCO (SP)
RONI (Campinas)
FERNANDO PETTERMAN (Campinas)
GUiLHERME DELOMAX (Campinas)
SAULO (SP)
GUSTAVO MAGNUSSON (Campinas)

Dia 16/12 - Show das bandas:
MUZZARELAS (Campinas)
BURLESQUE PLAYHOUSE (Itapira)
AGAINE (SP)
DELOMAX (Campinas)
JOSUE (Campinas)

Dia 17/12 - Show das bandas:
ALL THE HATS (Argentina)
NITROMINDS (SP)
SHAME (Campinas)
MAKAZUMBA (Campinas)
COICE DE MULA (Campinas)

Dia 18/12 - Show das bandas:
HURTMOLD (SP)
HATS (SP)
MAGUERBES (Americana)
LABORATORIO SP (SP)
LUNETTES (Campinas)
THE CONCEPT (SP)
SUPERDRIVE (Campinas)
THE BLUE JOHN INCIDENTE (Campinas)
_________________
Contatos:
Centro Cultural Evolução
Rua Regente Feijó, 1087, Campinas, S.P. - tel (19) 3232-9959
II Festival AutoRock
Site do Festival ou contato@autorock.com.br

Vale lembrar que é obrigatória a apresentação do documento de identidade, e não será permitida a entrada de menores de 13 anos.

domingo, dezembro 05, 2004

Esta semana:

Engenheiros do Hawaii - Acústico MTV (2004)



E mais uma banda dos anos oitenta se rendeu ao formato Acústico da MTV. Revisitar a carreira, reerguer as vendas, angariar novos fãs, celebrar a volta da formação original, etc. Acredito existir inúmeros motivos para tal coisa, mas, entre nós, já está começando a ficar óbvio demais. É certo que alguns acústicos são realmente bons, mas a fórmula está viciada; pelo menos é essa a sensação passada pelo recém lançado acústico dos Engenheiros do Hawaii.

Na verdade, o que salva um pouco o Egh dessa paisagem niilista que criei sobre os acústicos é o fato de em 1993 eles terem gravado o pouco conhecido "Filmes de guerra Canções de amor", um disco semi-acústico que foge completamente ao formato criado e abusado pelas Music Televisions. Pouco mais de dez anos depois, eles estão de volta, abraçando o projeto acústico nos padrões atuais, e devo admitir que é um bom disco. Sem grandes surpresas, é verdade, mas consistente e cheio de tudo o que um fã da banda pode querer: os sucessos, os clássicos, participação especial de ex-integrantes e outras coisas mais. Isso, é claro, se ficarmos na superficialidade do disco.

Desde que se desmantelou, em 1995, com a saída conturbada de Licks, guitarrista da banda, o Engenheiros do Hawaii se tornou a banda de Humberto Gessinger. E nem tente negar isto, pois uma das inúmeras provas irrefutáveis são as capas dos quatro álbuns anteriores da banda. Quem está lá? Pois é, então, como disse, os Egh é o Humberto, e vice-versa - já que Humberto até que tentou um projeto paralelo chamado "Gessinger Trio", mas não vingou; e, diga-se de passagem, uma das músicas deste projeto está neste acústico: "O preço". De certa maneira, essa coisa de “Egh=Gessinger” é uma lógica não muito boa, mas verdadeira, e vem se comprovando desde 1997, quando sobrou apenas Humberto da formação original na banda. Portanto, não é sem querer que além de estar na capa do disco (mais um), ele está na parte da mais alta do palco no show apresentado pela MTV. Seja como for, creio que a fórmula “Egh=Gessinger” já é tão óbvia para o público, que pouco importa nesta altura do campeonato.

O importante (e interessante) de se ouvir um disco como este é que uma das características mais marcantes dos Egh - a autocitação - acabou se tornando não só uma boa sacada, mas uma boa saída. Não são poucas as músicas da banda, principalmente ao vivo, em que uma letra é cantada no arranjo de outra ou uma frase é substituída numa outra canção. Isso sem mencionar a trilogia (“Revolta dos Dândis”, “Ouça o que eu digo, não ouça ninguém” e “Várias e variáveis” ). Posto isto, vemos que neste acústico, o fato de estar recheado de "grandes sucessos" da banda não soa como oportunismo, mas apenas mais uma boa idéia. Por isso, faixas como "O Papa é pop", "Infinita Highway", "Refrão de bolero", "Terras de gigantes", "A revolta dos Dândis" e "Era um garoto que como eu" não só agradarão aqueles fãs nostálgicos, como também garantirá a presença daqueles que só conhecem - ou gostam - das músicas radiofonicamente aprovadas.

Resumindo, o disco abraça um grande período da carreira da banda: de "A revolta dos Dândis", de 1987, até "Dançando no campo minado", de 2003, além das inéditas "Armas químicas e poemas" e "Outra freqüência". É claro, a releitura das canções (coisa que não é tão novidade para a banda) é um dos pontos altos deste acústico. "O Papa é pop" ganhou uma gaita, e mesmo sendo tocada em violões, mantém a estrutura básica da original; "Terra de gigantes" ganhou a tão discutida bateria por toda a música, para delírio dos fãs. Das canções mais novas, "3x4", do disco “!Tchau Radar!”, só não é o oposto do que está no disco original pois ainda é tocada com violões: o clima da música é outro, descontraído e leve, assim como “Surfando karmas e DNA”, do disco de mesmo nome lançado em 2002.

O show/CD/DVD ainda contou com a participação do ex-companheiro de banda Carlos Maltz na faixa "Depois de nós" e Clara Gessinger (isso mesmo, a filha dele) em "Pose", que acabaram por não fazer muita diferença. E mesmo a inusitada participação da pequena Gessinger não fica tão especial assim no contexto do disco. Na verdade, em se tratando de Egh, pouca coisa pode realmente surpreender, afinal, até para o Nirvana eles já abriram show (!). Ou seja, era quase óbvio que um acústico renderia muito mais que isso nas mãos dele(s).

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Especial - AutoRock

AutoRock 2004
Há fatos inesquecíveis na vida das pessoas. São aqueles que marcam realmente, e que dificilmente serão esquecidos, independente do que aconteça depois. Poderíamos dizer que o Festival Juntatribo, lá pelos idos anos de 1993 e 94, foi um desses fatos que marcou não só bandas como Pin-Ups, Muzzarelas ou Raimundos, mas todos os demais participantes, musicos, organizadores e público.

Em suas duas edições, o JuntaTribo foi um dos maiores festivais do interior de São Paulo. Com base no observatório da Universidade Estadual de Campinas, o festival lançou uma dezena de bandas além das citadas acima. Entretanto, a "cena" em Campinas acabou esfriando, e por dez anos nenhum festival alcançou os patamares estabelecidos pelo finado JuntaTribo. Pensando nisso, Enderson Albertino (Tatu), Cacá Toledo e Daniel Pacetta Giometti (Etê) organizaram ano passado o festival AutoRock, onde a música independente era o foco, e o clima de homenagem ao JuntaTribo pairava no ar. Os números pouco importam para tal evento, mas as 25 bandas de várias partes do país mostraram a cara nos palcos do Centro Cultural Evolução, levando cerca de 1.600 pessoas em seus quatro dias de duração.

O interessante do AutoRock é que o elemento principal não é a música. Há também exibição de vídeos, exposições e distribuição de zines. Ou seja, todos os ramos da arte independente tem seu espaço no Autorock. Ou quase todos, afinal é difícil agradar a gregos e troianos. O importante é que pela primeira vez houve espaço para que a cultura underground subisse aos olhos dos que não costumam muito olhar para baixo. E é claro, ainda não é história, mas isso é questão de tempo. Seja como for, assim foram os dias 4, 5, 6 e 7 de Setembro de 2003 em Campinas, São Paulo.

Agora, em Dezembro de 2004, do dia 12 ao dia 18, teremos o AutoRock II. Seguindo os passos de seu antecessor, a segunda edição do festival também irá abraçar a arte de uma maneira geral, com exposições, shows e discotecagens. Novas bandas ocuparão o mesmo palco, haverá exposições, video bar e tudo mais o que aconteceu em 2003. Enquanto aguardamos dia 12, o máximo que podemos fazer é esperar que o AutoRock II nos marque como o Juntatribo marcou. Como o AutoRock I marcou.

E guardar energias. Afinal, dessa vez, será uma semana de AutoRock, e não apenas 4 dias.
________________
Festival AutoRock II: De 12 a 18 de Dezembro no Centro cultural Evolução, Rua Regente Feijó, 1.087 - Campinas - S.P.