Esta semana:
Maurício Negão - Todos os versos (2004) *
A música independente tem, devido a sua grande possibilidade de experimentação, a oportunidade de nos surpreender. Na verdade, este deveria ser o grande objetivo de todos os que se envolvem com música, mesmo que estejam presos nas amarras das grandes gravadoras: experimentar, testar, misturar, emocionar. Maurício Negão, este carioca que além de músico também é artista plástico, captou tão bem esta idéia que em "Todos os Versos", seu quinto álbum, mostra que mesmo o pop, em toda sua abrangência, ainda pode ser misturado ou experimentado. Isto já havia acontecido em "Criolina", de 2001, é verdade. Mas em "Todos os versos", além de provar todas aquelas coisas sobre o pop, ainda faz mais: ele prova que o pop ainda pode surpreender.
A característica mais importante deste novo trabalho de Maurício Negão é que todas as misturas feitas ao longo do álbum se mostram naturais. Por exemplo, Jorge Ben Jor e Jimi Hendrix são duas influências claras no som de Negão, e mesmo parecendo água e óleo, estas duas vertentes musicais convivem em plena harmonia em faixas como "Você e eu" e "Alô alô". Ou seja, lançando mão da livre possibilidade de experimentar, "Todos os versos" é o casamento ideal entre as mais diversas possibilidades de pop. Seria perigoso rotular de maneira muito objetiva a inventividade deste carioca, mas o rock-ziriguidum, o auto-intitulado estilo de Maurício Negão, talvez seja a melhor maneira de resumir em duas palavras a linha que orienta o músico.
A gama de influências que constituem "Todos os versos" é tamanha e tão variada que acaba fazendo do álbum um apanhado geral de músicas que aparentemente não possuem ligação entre si. Em alguns casos esta é uma característica negativa, pois um mesmo disco acaba soando como uma coletânea de diversos artistas diferentes, não expondo a identidade músical de seu autor. No caso de Maurício Negão, as canções, mesmo sendo independentes entre si, são auto-sustentáveis, contendo algo do músico, o que acaba fazendo do disco uma colagem de pequenas peças que não precisam, necessariamente, uma da outra. Mas, em momento algum, temos a impressão de termos vários artistas diferentes; ao contrário, vemos um mesmo artista mostrando suas mais variadas facetas.
Neste sentido, convivem pacificamente no mesmo álbum músicas como "Lindos dias" - uma balada com violões e sem muitas surpresas, mas que vale por sua delicadeza, não apenas nos arranjos, também nas letras -, e "Moça bonita" - na qual o peso das guitarras dá os parâmetros de toda a música. Isto sem levar em conta canções como "A Marcação" - uma balada eletrônica que facilmente estaria em "Falange Canibal", de Lenine -, "Qualquer lugar" - segunda parceria de Maurício Negão com Frejat que, talvez por causa disso, guarda em si muito da sonoridade típica dos anos oitenta - ou "Alô alô" - riffs de guitarra na melhor interpretação tupiniquim de Hendrix.
Figuras como George Harrison ("Lindos dias"), Jorge Ben Jor ("Você e eu"), Jimi Hendrix ("Alô Alô") e qualquer banda pop brasileira dos anos oitenta são presenças confirmadas em "Todos os versos". É claro, todas juntas, misturadas num grande liquidificador musical que também atende por Maurício Negão, e levemente temperadas com a modernidade, que dá o toque final neste trabalho. A música não deve seguir receitas, principalmente no que diz respeito ao mundo independente, afinal, é a coragem de experimentação que diferencia os bons e os maus músicos. Entretanto, se me fosse pedido algum exemplo do como deveria ser feito um som original, essencialmente brasileiro e de qualidade, minha primeira indicação seria "Todos os versos".
*Resenha publicada no site Poppy Corn
A música independente tem, devido a sua grande possibilidade de experimentação, a oportunidade de nos surpreender. Na verdade, este deveria ser o grande objetivo de todos os que se envolvem com música, mesmo que estejam presos nas amarras das grandes gravadoras: experimentar, testar, misturar, emocionar. Maurício Negão, este carioca que além de músico também é artista plástico, captou tão bem esta idéia que em "Todos os Versos", seu quinto álbum, mostra que mesmo o pop, em toda sua abrangência, ainda pode ser misturado ou experimentado. Isto já havia acontecido em "Criolina", de 2001, é verdade. Mas em "Todos os versos", além de provar todas aquelas coisas sobre o pop, ainda faz mais: ele prova que o pop ainda pode surpreender.
A característica mais importante deste novo trabalho de Maurício Negão é que todas as misturas feitas ao longo do álbum se mostram naturais. Por exemplo, Jorge Ben Jor e Jimi Hendrix são duas influências claras no som de Negão, e mesmo parecendo água e óleo, estas duas vertentes musicais convivem em plena harmonia em faixas como "Você e eu" e "Alô alô". Ou seja, lançando mão da livre possibilidade de experimentar, "Todos os versos" é o casamento ideal entre as mais diversas possibilidades de pop. Seria perigoso rotular de maneira muito objetiva a inventividade deste carioca, mas o rock-ziriguidum, o auto-intitulado estilo de Maurício Negão, talvez seja a melhor maneira de resumir em duas palavras a linha que orienta o músico.
A gama de influências que constituem "Todos os versos" é tamanha e tão variada que acaba fazendo do álbum um apanhado geral de músicas que aparentemente não possuem ligação entre si. Em alguns casos esta é uma característica negativa, pois um mesmo disco acaba soando como uma coletânea de diversos artistas diferentes, não expondo a identidade músical de seu autor. No caso de Maurício Negão, as canções, mesmo sendo independentes entre si, são auto-sustentáveis, contendo algo do músico, o que acaba fazendo do disco uma colagem de pequenas peças que não precisam, necessariamente, uma da outra. Mas, em momento algum, temos a impressão de termos vários artistas diferentes; ao contrário, vemos um mesmo artista mostrando suas mais variadas facetas.
Neste sentido, convivem pacificamente no mesmo álbum músicas como "Lindos dias" - uma balada com violões e sem muitas surpresas, mas que vale por sua delicadeza, não apenas nos arranjos, também nas letras -, e "Moça bonita" - na qual o peso das guitarras dá os parâmetros de toda a música. Isto sem levar em conta canções como "A Marcação" - uma balada eletrônica que facilmente estaria em "Falange Canibal", de Lenine -, "Qualquer lugar" - segunda parceria de Maurício Negão com Frejat que, talvez por causa disso, guarda em si muito da sonoridade típica dos anos oitenta - ou "Alô alô" - riffs de guitarra na melhor interpretação tupiniquim de Hendrix.
Figuras como George Harrison ("Lindos dias"), Jorge Ben Jor ("Você e eu"), Jimi Hendrix ("Alô Alô") e qualquer banda pop brasileira dos anos oitenta são presenças confirmadas em "Todos os versos". É claro, todas juntas, misturadas num grande liquidificador musical que também atende por Maurício Negão, e levemente temperadas com a modernidade, que dá o toque final neste trabalho. A música não deve seguir receitas, principalmente no que diz respeito ao mundo independente, afinal, é a coragem de experimentação que diferencia os bons e os maus músicos. Entretanto, se me fosse pedido algum exemplo do como deveria ser feito um som original, essencialmente brasileiro e de qualidade, minha primeira indicação seria "Todos os versos".
*Resenha publicada no site Poppy Corn