Esta semana:
Funk Como Le Gusta - F.C.L.G. (2004)*
Que a lógica de mercado é injusta todo mundo sabe. Bandas são criadas, jabás distribuídos e programas de domingo enfiam goela abaixo a nova sensação do verão. E, de certa maneira, somos obrigados a engolir o velho-novo som das paleozóicas bandas do cenário brasileiro e mundial e outras tantas besteiras. Entretanto, em momentos de rara sorte, encontramos bons trabalhos que muitas vezes são simplesmente ignorados por quase todos, talvez por desconhecimento ou comodismo. Independentemente da causa, fato é que não vemos a luz no fim do túnel por estarmos de olhos fechados, e se continuamos a engolir besteiras, a culpa é nossa.
Então, não por acaso, poucos conhecem o Funk Como Le Gusta. Banda paulista formada em 1998, ainda no mesmo ano ganhou certa notoriedade devido aos shows que fazia às quartas-feiras num local chamado Espaço Anexo, onde ocorriam as mais variadas "jam-sessions" com nomes do calibre de Marcelo D2, Dj Marky, Daúde, Thaíde e Dj Hum, Sandra de Sá e Otto. Contando com 12 músicos, a big-band sempre fez um som tendendo ao funk e ao groove, misturando a eles elementos latinos. Não demorou para que fosse lançado o primeiro trabalho, e em 1999 "Roda de Funk" veio ao mundo contando com participações de Fernanda Abreu e Black Alien do Planet Hemp. Mas dada a pouca divulgação, o disco não recebeu o reconhecimento que merecia.
Seguindo os passos de seu antecessor, o novo trabalho da banda, intitulado apenas “F.C.L.G.”, foi lançado em 2004, mas até agora foram poucos os comentários a seu respeito. Durante o período entre um disco e outro, a banda passou por alterações em sua formação que, por sua vez, acabaram mudando também o processo de gravação. A principal diferença técnica entre os trabalhos é a maneira pela qual foram gravados. Muito embora sejam mínimas as diferenças, "F.C.L.G." foi registrado de maneira convencional, sendo gravado um instrumento de cada vez; "Roda de Funk", como propõe o próprio nome, foi gravado ao vivo, numa roda feita pelos músicos no próprio estúdio. Acontece que depois de terminada a primeira música deste novo trabalho, uma constatação é naturalmente feita: as pequenas diferenças técnicas não refletem as mudanças pelas quais passaram o som da banda.
Mesmo mantendo ritmos dançantes como funk, groove e o samba-rock, este novo trabalho traz algumas inovações ao som da banda. A introdução de elementos eletrônicos talvez possa ser apontada como uma das melhores - e até esperadas - surpresas deste novo álbum. Logo na faixa que abre o disco, "S.O.S", há pequenas linhas eletrônicas que fazem o acabamento da música; em "Vertiplano" são as eletrônices que guiam a canção por seus quase quatro minutos. Ou seja, muito antes de transformar o som da banda, este novo elemento deve ser visto como uma possibilidade a ser explorada. E temos aqui um bom começo. Mas não só a música eletrônica ganhou espaço na salada musical da banda. Para dar um sabor diferente, o choro (!) é também um novo elemento inserido neste trabalho, mesmo sendo mais influência do que tendência. Antes de gastar palavras e mais palavras tentando explicar como funciona tal fusão, o melhor mesmo é indicar a faixa "Aos trutas", que, além de substituir qualquer explicação, é uma da melhores do disco.
Os ritmos latinos, que desde os primeiros shows era característica marcante da banda, podem ser encontrados em "Latina", segunda faixa de "F.C.L.G." O funk, é claro, está presente em todo o disco, mas em intensidades e maneiras diferentes. Em "Somos do funk" e "Tá chegando a hora" há uma levada mais calma do gênero, enquanto "Drive In" e "Besame Mama" são mais dançantes - sendo que esta (música de Mongo Santamaria) possui elementos latinos que lembra o CD anterior. Da mesma maneira, o samba-rock de Jorge Ben Jor continua ainda presente no som da banda, e "A Nêga e o Rebolado" deixa tal afirmação mais que provada.
Quer dizer, o túnel existe, e a luz está lá, mesmo que não a vejamos. O importante é busca-la. Sorte de quem descobriu o Funk Como Le Gusta antes, sorte de quem descobriu agora, pois a escuridão já não é mais a mesma. Por isso, mesmo que seu gosto não aceite muito bem o funk ou o groove ou o samba-rock deste "F.C.L.G.", ele vale a pena apenas pela descoberta e reabastecimento da esperança de um mundo musicalmente melhor.
*Resenha publicada no site Poppy Corn
Que a lógica de mercado é injusta todo mundo sabe. Bandas são criadas, jabás distribuídos e programas de domingo enfiam goela abaixo a nova sensação do verão. E, de certa maneira, somos obrigados a engolir o velho-novo som das paleozóicas bandas do cenário brasileiro e mundial e outras tantas besteiras. Entretanto, em momentos de rara sorte, encontramos bons trabalhos que muitas vezes são simplesmente ignorados por quase todos, talvez por desconhecimento ou comodismo. Independentemente da causa, fato é que não vemos a luz no fim do túnel por estarmos de olhos fechados, e se continuamos a engolir besteiras, a culpa é nossa.
Então, não por acaso, poucos conhecem o Funk Como Le Gusta. Banda paulista formada em 1998, ainda no mesmo ano ganhou certa notoriedade devido aos shows que fazia às quartas-feiras num local chamado Espaço Anexo, onde ocorriam as mais variadas "jam-sessions" com nomes do calibre de Marcelo D2, Dj Marky, Daúde, Thaíde e Dj Hum, Sandra de Sá e Otto. Contando com 12 músicos, a big-band sempre fez um som tendendo ao funk e ao groove, misturando a eles elementos latinos. Não demorou para que fosse lançado o primeiro trabalho, e em 1999 "Roda de Funk" veio ao mundo contando com participações de Fernanda Abreu e Black Alien do Planet Hemp. Mas dada a pouca divulgação, o disco não recebeu o reconhecimento que merecia.
Seguindo os passos de seu antecessor, o novo trabalho da banda, intitulado apenas “F.C.L.G.”, foi lançado em 2004, mas até agora foram poucos os comentários a seu respeito. Durante o período entre um disco e outro, a banda passou por alterações em sua formação que, por sua vez, acabaram mudando também o processo de gravação. A principal diferença técnica entre os trabalhos é a maneira pela qual foram gravados. Muito embora sejam mínimas as diferenças, "F.C.L.G." foi registrado de maneira convencional, sendo gravado um instrumento de cada vez; "Roda de Funk", como propõe o próprio nome, foi gravado ao vivo, numa roda feita pelos músicos no próprio estúdio. Acontece que depois de terminada a primeira música deste novo trabalho, uma constatação é naturalmente feita: as pequenas diferenças técnicas não refletem as mudanças pelas quais passaram o som da banda.
Mesmo mantendo ritmos dançantes como funk, groove e o samba-rock, este novo trabalho traz algumas inovações ao som da banda. A introdução de elementos eletrônicos talvez possa ser apontada como uma das melhores - e até esperadas - surpresas deste novo álbum. Logo na faixa que abre o disco, "S.O.S", há pequenas linhas eletrônicas que fazem o acabamento da música; em "Vertiplano" são as eletrônices que guiam a canção por seus quase quatro minutos. Ou seja, muito antes de transformar o som da banda, este novo elemento deve ser visto como uma possibilidade a ser explorada. E temos aqui um bom começo. Mas não só a música eletrônica ganhou espaço na salada musical da banda. Para dar um sabor diferente, o choro (!) é também um novo elemento inserido neste trabalho, mesmo sendo mais influência do que tendência. Antes de gastar palavras e mais palavras tentando explicar como funciona tal fusão, o melhor mesmo é indicar a faixa "Aos trutas", que, além de substituir qualquer explicação, é uma da melhores do disco.
Os ritmos latinos, que desde os primeiros shows era característica marcante da banda, podem ser encontrados em "Latina", segunda faixa de "F.C.L.G." O funk, é claro, está presente em todo o disco, mas em intensidades e maneiras diferentes. Em "Somos do funk" e "Tá chegando a hora" há uma levada mais calma do gênero, enquanto "Drive In" e "Besame Mama" são mais dançantes - sendo que esta (música de Mongo Santamaria) possui elementos latinos que lembra o CD anterior. Da mesma maneira, o samba-rock de Jorge Ben Jor continua ainda presente no som da banda, e "A Nêga e o Rebolado" deixa tal afirmação mais que provada.
Quer dizer, o túnel existe, e a luz está lá, mesmo que não a vejamos. O importante é busca-la. Sorte de quem descobriu o Funk Como Le Gusta antes, sorte de quem descobriu agora, pois a escuridão já não é mais a mesma. Por isso, mesmo que seu gosto não aceite muito bem o funk ou o groove ou o samba-rock deste "F.C.L.G.", ele vale a pena apenas pela descoberta e reabastecimento da esperança de um mundo musicalmente melhor.
*Resenha publicada no site Poppy Corn