domingo, março 13, 2005

Esta semana:

Retrofoguetes - Ativar Retrofoguetes (2004)



Ficção científica. Personagens de Isaac Asimov e o espacial circo de Moscou. Robôs gigantes e invações alienígenas. Não haveria outra maneira de colocar todos estes ingredientes em um só disco se não através da surf-music. Com um toque de rockabilly, é claro. E psychobilly também. Esqueci do Flash Gordon e de uma certa influência mexicana. O negócio é escutar e procurar todas as possibilidades e influências contidas neste "Ativar Retrofoguetes", primeiro disco da banda de surf-music baiana "Retrofoguetes".

A história do trio começou quando o vocalista do "The Dead Billies", Moskabilly, resolveu seguir carreira solo. Até aqui a banda acumulava dois discos na bagagem ("Don't Mess With... The Dead Billies" e "Heartfelt Sessions") e participações em festivais como Abril pro Rock e Goiânia Noise. Após a baixa, no início de 2002 os remanescentes Joe (baixo), Morotó (guitarra) e Rex (bateria) optaram por continuar tocando, e criaram a banda instrumental "Retrofoguetes". Entretanto, antes da formação se fechar, o baixista Joe foi tocar com a Pitty, deixando lugar para CH, o último elemento deste power trio. Pendendo para a surf-music, mas mantendo um pé rockabilly e psychobilly da antiga banda, o "Retrofoguetes" ainda trouxe do "The Dead Billies" toda a temática ficcional e um forte apelo visual para seus trabalhos.

Lançado em 2002, "Protótipo de Demonstração nº1" foi o primeiro EP do "Retrofoguetes". Visto quase como uma trilha sonora para um filme de ficção científica, "Protótipo..." possui quatro canções que entraram neste "Ativar Retrofoguetes", e dá aos antigos fãs do "Dead Billies" uma amostra de qual seria o futuro da nova banda. A produção, tanto do EP quanto do disco foi assinada por Nancy Viegas e andré t., e as influências da surf-music da década de 60 (entende-se Beach Boys, Ventures e Dick Dale) vistas em "Protótipo de Demonstração nº1" são aprofundadas nas dezenove faixas que compõe este primeiro disco da banda.

Nos pouco mais de quarenta minutos de álbum, a banda passeia não apenas pelos filmes de ficção científica ou seriados japoneses (origem do nome da banda e do disco), mas também por temas mexicanos ("Roswell" e "Night of Excess"), polca ("O Início do Espetáculo") e eletrônicos anos 80 ("Warp"). A produção deixa sua marca no som através de pequenos ruídos e barulhos que se encaixam ao longo das músicas, criando ambientes e detalhes que não apenas amarram o disco, mas que muito contribuem para a identidade visual, uma das principais características da banda. Isto é facilmente percebido nas faixas "O Carrossel do Inferno" e "Monga, Meu Amor".

Mas nada adiantaria se o trio não segurasse o tranco. O entrosamento entre o baixo e a bateria fazem o caminho de efeitos e solos e experimentalismos da guitarra muito mais fácil. Ora distorcido ora quase imperceptível, o baixo de CH é quem dita o andamento das músicas, ao lado da bateria certeira de Rex. As guitarras de Morotó Slim são um caso à parte, como em todas as bandas de surf-music que se prezem. A melhor maneira de entender o funcionamento deste trio é a faixa "A Fantástica Fuga de Magnólia Pussycat", composta à partir de uma perseguição no quintal da casa de Morotó para captura de sua gata, e na qual a banda mostra sua capacidade musical sem medir forças.

Enumerar aqui todas as influências e citações encontradas ao longo de "Ativar Retrofoguetes" seria extremamente complicado e, com certeza, chato de ser lido. Por isso, guardo as surpresas a quem se arriscar a entrar neste filme (sci-fi, é claro) estrelado pelo "Retrofoguetes". Ou seria uma história em quadrinho? Ou um livro de ficção científica? Ou um seriado Japonês? Fato é, não haverá arrependimento algum. No mínimo, alguns bons momentos de diversão, como toda boa surf-music pode proporcionar. Ou seria rockabilly? Ou polca? Ou psychobilly? Escute o disco, e descubra você mesmo.